Dizem os anais da política: uma boa oposição faz um governo forte e, obviamente, uma oposição fraca permite que um governo-nódoa possa estar em funções sem ser incomodado. Este princípio correlacional de forças está perfeitamente enquadrado nos tempos que correm. Na minha perspectiva, claro, temos um governo fraco e minoritário, apoiado num fortíssimo staff propagandistico e numa comunicação social adestrada que vão tapando as mazelas de governantes pouco dados a conduzir os destinos do país com eficiência e com visão.
Como oposição, temos duas opções, no momento e bem marcadas. Uma, pela ideologia, pelos fretes e pela verborreia que produz no quotidiano. Outra, pelos silêncios comprometedores.
Ponto um - Rui Rio (RR) arma-se em bonzinho e em engraçadinho ao mandar umas balelas na direcção errada. Ou é muito ingénuo, o que eu não acredito, ou é uma sumidade ainda por descobrir. Parece-me mais um político inofensivo que baseia a sua estratégia na imagem de seriedade que tem e no possível desgaste do seu concorrente directo. Com esta estratégia não vai longe. De certeza absoluta. Antes de ter chances de ascender ao poder será esfolado e comido como um papalvo que nem as unhas dos pés escaparão. Disso não tenho dúvidas.
Ponto dois - Fico espantado, portanto, como ainda não percebeu o jogo que se desenvolve no tabuleiro das alianças, das mentiras e das propagandas. Um jogo de amuos e de recuos. De faz-de-conta que avança, mas que avança parado. De fingimentos que se está no contra, mas sempre disponível para dar seguimento à coisa. Enquanto esta narrativa durar, RR torrará em lume brando. Assim o quer. Assim o merece. Ser oposição não é dizer amém. É nesta altura complicada que se vê a fibra e a capacidade de um líder.
RR deve vestir o fato de líder opositor, pois é com esta indumentária que poderá aspirar a alguma coisa. É imperioso que RR desate este embrulho vazio de ideias, que desvie o foco das necessidades virtuais do país, que proponha uma agenda reformista a sério e partir para o combate político com as armas da verdade, da transparência e da determinação. É preciso mudar o sentido da estagnação económica, da liberdade de escolha dos cidadãos e da dignidade do país. Basta de sermos tratados como um país pobretanas, subsidiário e incapaz. RR tem que assumir o desmancho desta visão castradora da sociedade.
Ponto três - Pelos vistos, RR prefere ficar bem na fotografia e receber os elogios gratuitos e manhosos do adversário. Na política, por ser coisa séria, não há lugar para bonzinhos. Nem para engraçadinhos. Na política exige-se rigor, seriedade e eficiência. Exigem-se resultados. Fora disto é perder tempo, gastar latim, comprometer o presente e adiar o futuro.
RIo demitiu-se de ser oposição. Parece-me evidente. Preferiu oferecer de bandeja os seus tarecos ao líder do partido que infernizou a vida do PSD no tempo da Troika do que arcar a responsabilidade de um político assertivo, com ideias e reformista. O tempo da Troika, tempo de dificuldades imensas e de imensas incompreensões, foi vencido, entretanto, com sacrifícios e com um rol de “maldades” associadas. Tempo que dilacerou impiamente toda uma sociedade já por natureza muito debilitada sob o ponto de vista financeiro, social e cultural. Este partido, o PS, nunca se juntou ao PSD para resolver a enorme crise que existia em 2011 e nem teve a mínima consideração pelo esforço despendido para salvar o país da humilhação que esse próprio partido criou. Pelo contrário. Foi uma força política revanchista, rancorosa e ingrata.
Ponto quatro - RIo é uma carta fora do baralho na actual conjuntura política. Representa o papel de D. Quixote desta novela real que desembainha, de vez em quando, a espada de ferro escócio para derrubar as políticas nebulosas de uma corrente ideológica que não quer respeitar as diferenças opinativas e o pluralismo, ainda pontos fortes deste regime. Essa corrente extremista não tem pejo em rotular quem pensa diferente de “reaccionário, fascista, fascistóide, xenófobo, neoliberal”, como aconteceu com alguns “comediantes” na comemoração apalermada do 25 de Abril na Assembleia da República. Esta linha perigosa e matreira desenvolve a sua propaganda com comentários de ódio, com imbecilidades e com notícias falsas, fazendo furor nos círculos das boyadas, grupos controlados por avençados e por “trolls” que despejam um caudal de desinformação com o intuito de entupir os canais da transparência, da tolerância e da liberdade.
RR ainda não percebeu que não faz parte da “velha democracia” do 25 de Abril de 1974.
Com esta política, vamos continuar condenados a ser pobres, dependentes e sem futuro. É a nossa sina! É a sina da periferia política e de uma visão velha de sociedade.
Autor: Armindo Oliveira
Ponto por ponto
DM
10 maio 2020