Dizem-nos que o governo que, neste momento, está em funções é de esquerda ou das esquerdas. Dizem-nos! Sinceramente, ainda não consegui descortinar a sua linha ideológica, nem a sua estratégia. Não percebo como se pode governar um país sem estratégia e sem visão!
Ponto um – Apercebo-me que, apesar da prosápia das igualdades e das causas "decepcionantes" do BE, sempre tidas como grandes preocupações sociais do país, há muito neo-liberalismo económico à mistura e Centeno a mais no domínio dos ministérios.
O que eu sei, e já não é de agora, o governo que temos é uma miscelânea de "espertos e de devoradores de sapos" que fizeram um pacto coligativo para não desaparecerem da cena política nacional. O que temos é um governo apoiado por dois partidos anacrónicos, anti-Europa, anti-euro, anti-tratado orçamental e anti-Nato. O que temos é um governo com tiques salazarentos de refinado quilate, como muito bem escreveu o prof. Dinis Salgado numa crónica recentemente publicada no D.M.
Ponto dois – A proposta emblemática desta governação residia no virar "a página da austeridade". A pergunta impõe-se, de imediato, pela sua pertinência: Virou-se, de facto, a amaldiçoada austeridade? Não. Nem pensar! O que aconteceu foi que se jogou e joga de forma habilidosa com as palavras e com a inteligência dos portugueses. Passos Coelho (PC) impôs assumidamente, com coragem e por necessidade, um regime de austeridade para poder aceder aos mercados financeiros e de satisfazer as exigências dos credores. Quem não percebeu isto, não percebeu como o "PS se tornou num instrumento de corruptos e de criminosos" – citação de Ana Gomes.
Os orçamentos apresentados e aprovados por PC já continham aumentos de impostos e todo o tipo de cortes. É verdade! Agora, por incrível que pareça, o colossal aumento de impostos indirectos, não incomoda a bolsa e o ânimo dos portugueses. As cativações degradam o Estado "Social e bloqueiam todos os investimentos quer estes sejam inadiáveis, relevantes ou necessários". As dívidas monstruosas são pagas tarde e a más horas com prejuízos óbvios para a economia e para a reputação de um Estado de bem e credível. É notório que o SNS está um caos e falido. O Sistema Educativo anda à deriva. A Justiça funciona aos soluços, dependendo muito a sua eficácia ou ineficácia do estatuto dos seus "clientes". As pensões de reforma são, grosso modo, miseráveis e o governo vai brincando com a atribuição de subsidiozinhos só para iludir.
Ponto três – É aqui que entram os tiques salazarentos do governo. Quando Salazar chegou ao poder em Julho de 1932, a primeira exigência que fez ao presidente Carmona foi que toda a despesa que se fizesse no país tinha que ter o seu aval. Esta prática está a ser seguida "ipsis verbis" por Mário Centeno. Salazar dominava todos os ministérios da governação, sendo os ministros simples servidores da sua política. Esta prática está a ser seguida "ipsis verbis" por Mário Centeno que conseguiu esvaziar os desempenhos de todos e de qualquer ministro. As palavras do ministro da Saúde revelam exactamente este ponto vista: "somos todos Centeno".
Ponto quatro – Outro tique salazarento. Salazar conseguiu através de uma política ambígua e habilidosa que Portugal não entrasse directamente na Segunda Guerra Mundial. Salazar manteve o país neutro. Esta neutralidade valeu-lhe, extemporaneamente, as mais acirradas críticas vindas dos sectores "progressistas" nacionais da época. Agora, com o problema do envenenamento do ex-espião Skripal, o governo do dr. Costa, tal como fez Salazar, lavou as mãos como Pilatos, perante a sua velha aliada Inglaterra. Também o ministro Santos Silva numa defesa ambígua e manhosa limitou-se somente a chamar o embaixador para consultas, quando a Nato e tantos países ocidentais da primeira divisão no desenvolvimento expulsaram diplomatas russas como resposta ao "crime" cometido alegadamente pelos serviços secretos russos.
Ponto cinco – O primeiro-ministro, para atenuar o descontentamento manifestado pelo governo inglês pela decisão ideológica que Portugal tomou, foi a Londres justificar-se perante Teresa May. O normal e o correcto era ter procedido como procederam a maioria dos países europeus que se puseram sem reservas ao lado da Inglaterra. A atitude de Salazar fragilizou Portugal no contexto europeu e mundial. Portugal pagou com o isolamento essa neutralidade. Também agora Portugal pôs-se a jeito e poderá pagar caro pela manhosice demonstrada, perante o nosso mais velho aliado e perante os nossos parceiros europeus. Onde está a tal solidariedade da esquerda?!
Autor: Armindo Oliveira