As coisas estão feias. Bem feias, por sinal. Vive-se um momento delicado neste país. Na Europa. Em todo o mundo. A vida tornou-se, num instante, num enorme sarilho. Num susto tremendo. Uma vida frágil que se reflecte numa solidão profunda. Toda a gente evita toda a gente. As pessoas não se falam. Fogem do contacto. Não se cumprimentam. Parecem autómatos. Cabisbaixos, resignados com a situação que estorva o quotidiano. Não há nada a fazer. Resta cumprir regras e saber ser cidadão. O medo, no entanto, está sempre presente. Implacável!
Ponto um - Bastou um “bicharoco” manhoso para colocar o mundo em polvorosa e em pantanas. O vírus chinês veio mostrar ao governo nacional todas as debilidades de um Sistema de Saúde que já estava esburacado e chiava por todos os lados, apesar dos ditos e reditos do dr. Costa.
Noutro contexto, este bem mais alargado, a impotência dos líderes e das organizações mundiais para combater esta peste é total. Nem a gripe das aves, nem a Sida causou tanto alvoroço nas esferas dos poderes. O medo fez refém a vida das pessoas. Outras vivem em pânico. Vive-se agora em clausura forçada e sem se saber quando esta aflição terminará. Os governos movimentam-se como baratas tontas à procura de respostas plausíveis que não aparecem. A receita que encontram é isolar as pessoas nas suas casas, fechar estabelecimentos, barrar fronteiras. Enquanto não chega a cura milagrosa, o tratamento é evitar contactos e restringir liberdades. É lavar as mãos e desinfectar tudo e mais alguma coisa. E assim se vive o quotidiano numa ansiedade desmedida e num stress incontrolável.
Ponto dois - Finalmente, o optimismo irritante cedeu o passo à preocupação. Os sorrisos provocantes, intermitentes e vitoriosos(?) transformaram-se em caras chispadas e em palavras arrastadas. O cinismo desapareceu do discurso rosa. A arrogância passou a escrever-se com h de humildade. O afrontamento murchou. Como tudo se tornou diferente num ápice.
O governo socialista, perito em contornar problemas sem os resolver, em controlar a comunicação social para a adestrar e calar, em desvalorizar o óbvio para evitar o surgimento “das forças de bloqueio”, não consegue fugir da teia montada por esta maldita peste. Vê-se, de facto, um governo em desnorte, perdido nas suas próprias contradições, a debitar, a todo o momento, medidas em cima de medidas, procurando o luzeiro que lhe indique o rumo certo. Sente-se no ar engripado um governo frágil, que criou ilusões, cenários de auto-suficiência, de excedentes fingidos, e que mergulha agora num atoleiro, inundado por uma tempestade de incapacidades e por dificuldades praticamente irresolúveis.
Ponto três - O Presidente da República sempre omnipresente em tudo o que era lugar também vacilou ingloriamente perante a ofensiva vírica. Por medo ou por hipocondria refugiou-se no seu casulo, deixando os beijos, os afectos e as selfies para outras ocasiões e mais propícias. Até lá, o timoneiro deixou o leme do país à sua sorte e à mercê das marés. É de lamentar que, nesta hora desafortunada, não esteja no seu posto de vigia, sabendo que os resultados do exame que fez, assintomático, deram negativos. Não há razões objectivas para estar escondido do Covid-19.
Ponto quatro - Vamos aferir agora a valia do Cristiano Ronaldo das Finanças - Mário Centeno. Vamos ver o que ele vale nesta conjuntura económica de enormes constrangimentos.
Será que o iremos ver a dinamizar a economia para a fazer crescer acima da média europeia? Iremos vê-lo a tomar medidas para criar ou recriar emprego perdido? Iremos vê-lo, agora, a deixar de se gabar dos excedentes orçamentais? Iremos vê-lo a continuar a cativar recursos financeiros para não responder aos problemas de funcionamento do SNS? Ou iremos vê-lo a continuar com aquele sorriso matreiro, ufanando-se dos resultados económicos conseguidos no passado, muito à custa dos outros? Ou limitar-se-á a fugir deste sarilho para outros o resolverem como aconteceu em 2011?
Ponto cinco - Não é difícil de prever que a economia nacional vai entrar em recessão. E por arrastamento o mesmo vai acontecer com os aumentos exponenciais do défice público e do endividamento do país, das pessoas e das empresas. O “coronavírus” provocou a tempestade perfeita, num país que fazia de conta que estava tudo bem.
Em tudo na vida é preciso humildade, ponderação, racionalidade. Quem vive da propaganda, de optimismos, de sorrisos tem a jornada contada. Que sirva ao menos de lição.
Autor: Armindo Oliveira
Ponto por ponto
DM
22 março 2020