Quando comecei a ver que «o cozinhado estava a azedar, talvez por falta de condimentos apropriados», pensei (certamente como muitas outras pessoas) que “quando se zangam as comadres, se descobrem as verdades”.
E pus-me a “rebobinar o filme” da vida da “geringonça”, desde o seu início. Em 2015, sendo Presidente da República Cavaco Silva, houve Eleições Legislativas, das quais saiu como mais votado o Partido Social-Democrata, ainda que em minoria. Perante os resultados obtidos, este Partido foi chamado pelo Presidente Cavaco Silva a formar Governo. E fê-lo, contra as vozes e a vontade da maioria de Esquerda que tinha assento parlamentar. “É uma perda de tempo. Tal governo indigitado tem como destino o chumbo parlamentar da Esquerda que aqui tem assento”.
Na altura pareceu que a Esquerda estava unida. O “castelo” parecia ter sido “construído” com solidez. Ou antes, estava subjacente a vontade de “ter voto na matéria” dos destinos nacionais. No seu interesse, os partidos mais à esquerda diziam que teimar na nomeação do P.S.D. para formar governo arrastava o impasse, obstruindo a formação do novo executivo. Isto é, queriam agarrar o pássaro do poder.
Chumbado o Governo Social-Democrata, o Presidente da República encarregou o segundo partido mais votado de tal tarefa. E os acontecimentos “subsequentes sucederam-se sem novidade. O país teve um governo de confortável apoio parlamentar, e que começou a “rolar sobre esferas bem oleadas”; assim parecia.
António Costa e o seu Governo começavam a construir um castelo que teria alicerces seguros. Tratava-se de «um Governo confiante na "solidariedade parlamentar" que conferia "legitimidade" ao Executivo empossado».
Na sequência das eleições legislativas de 2019, «tudo indica(va) haver renovação da geringonça, (então) mais alargada. António Costa lembrou que "os portugueses gostaram da geringonça" e, por isso, o PS quer(ia) a continuidade da actual solução política. O PS (seria) mais forte". (….) O PCP, por outro lado, já se pôs de fora quanto à possibilidade de um acordo». [DN – notícias-net]
Escrevo consumado que está o “chumbo” do O.E. para 2022.
“Zangaram-se as comadres, descobriram-se as verdades”. Tem havido borrasca, muita borrasca política. O castelo, que em 2015 pensei ser sólido, afinal mostrou ser de areia. Com ela molhada, aguentou-se seis anos. Os ventos que se levantaram com a discussão do O.E. 2022 secaram essa areia. E o castelo desmoronou-se.
Há três dias [28/10/2021] sentei-me; ligado o computador, accionei o Mozilla Firefox e acedi a “Sapo”. De repente dei com os olhos no título «Seis anos de geringonça. Casaram, deram um tempo e agora divorciaram-se». Num pequenino tamanho, a fonte, “Jornal i”.
Não me deu tempo de abrir e ler a notícia, porque apareceu o ‘antipático’ logótipo verde SAPO; e “Damos Valor à sua Privacidade”. Cliquei em “ACEITAR TODOS”, mas estava bloqueado.
De seguida no Google escrevi: “zangam-se as comadres” e dei Enter. De uma “pasta” retirei a seguinte explicação para a expressão:
«Descrever uma viragem nas relações de duas pessoas ou instituições que até um determinado momento se comportavam como amigas e depois passaram a revelar “verdades” que, até àquele momento, se desconheciam ou não estavam detalhadas».
Não tendo conseguido uma maioria parlamentar que lhe permitisse governar de forma confortável, o Partido Socialista decidiu negociar, antecipadamente e fora do parlamento, a aprovação das medidas legislativas a adoptar com o Bloco de Esquerda e o PCP. E falhou. António Costa entrou num túnel que no fundo não tem uma luz. O “Não” ao O.E. para 2022 está consumado.
«A geringonça está morta e enterrada, o Orçamento do Estado foi chumbado na Assembleia da República. Quando António Costa destruiu o Muro de Berlim à esquerda e construiu outro à direita, caiu na sua própria armadilha». [Visão – 28 Out. 2021]
.A geringonça está morta e enterrada, o Orçamento do Estado foi chumbado na Assembleia da República.
Autor: Bernardino Costa