1. Política e bem comum devem caminhar de mãos dadas.
O grande objetivo da atividade política deve ser o bem de todo o homem e do homem todo. O que deve nortear a atividade de quem se dedica à nobre arte da política, como lhe chamou Paulo VI, é o contributo para o bem da comunidade.
2. Não deve ser político quem quer mas quem se sente devidamente preparado para isso. Quem está decidido a servir o que se chama a causa pública. Quem verdadeiramente deseja contribuir para a construção de um mundo cada vez melhor: uma sociedade cada vez mais humana, mais justa, mais verdadeira, mais fraterna, mais solidária.
Bem exercida, a atividade política exige sacrifício. Exige trabalho. Exige uma grande sensibilidade face a situações de subdesenvolvimento e de injustiça.
Infelizmente nem sempre assim acontece. Nem sempre o político se norteia pela busca do bem comum mas pela satisfação de interesses próprios e/ou alheios. Daí terem-se feito leis à medida de certos interesses ou teimosias ideológicas. Daí a existência de pessoas que, da política fazendo a principal ocupação, em lugar de servirem se servem. Convertem a política na arte de se arranjarem.
3. Nem todos os políticos são assim, é evidente. Quero crer que a grande maioria não o é. Mas têm vindo a público casos lamentáveis, gravemente lesivos do bem comum, que deviam ser devidamente esclarecidos em vez de, sobre eles, se estender um manto de silêncio. O facto de um cunhado do Rei de Espanha se encontrar a cumprir pena de prisão efetiva deve fazer-nos pensar.
4. Quem serve deve ser reconhecido. Por isso se vem falando numa conveniente retribuição a dar a quem à política se dedica. Não seria melhor, por exemplo, termos, menos deputados mas melhores e mais bem remunerados? O País não lucraria se o cargo de deputado fosse exercido em regime de exclusividade?
Deve ser reconhecido o trabalho do político que exerce bem a sua profissão, como devem ser responsabilizados os que, em lugar de terem servido, se serviram. A corrupção é uma chaga que corrói a sociedade, mas dá a impressão de haver receio de enfrentar o problema. De levar as pessoas a agirem com transparência e de responsabilizar quem prevaricou.
5. Que se não meçam todos os políticos pela mesma bitola. Nada de confusões. Mas que se separe o trigo do joio.
Que se denunciem as verdadeiras irregularidades de quem, pelos seus atos, contribuiu ou contribui para o descrédito da política.
Que se proteja o direito à privacidade, também dos servidores da causa pública. Que as pessoas não sejam julgadas na praça pública antes de o serem pelos tribunais, e que estes atuem com a celeridade e a independência exigidas por um estado de direito. Que se não confunda um arguido com um condenado; um suspeito com um prevaricador. Que se qualifiquem os atos e não a pessoa que os pratica, agindo com a convicção de que o autor de atos condenáveis não deixa de ser uma pessoa e que nem por isso foi privada da dignidade de ser humano. Que a todos os acusados seja dada a possibilidade de se defenderem. Que se respeite a presunção de inocência.
Mas que o respeito por estes e outros direitos não seja motivo para que se não denunciem atos que devem ser trazidos a público e se não faça justiça.
Há que pôr de lado isso de identificar legalidade com moralidade. Há ações legais eticamente censuráveis. Um ato cometido sem infringir qualquer lei pode ser gravemente imoral.
6. Na denúncia dos erros lesivos do bem comum têm uma função importante os Meios de Comunicação Social. Por isso se lhes chama o quarto poder. Compete-lhes pôr a descoberto erros cometidos pelos restantes poderes e não só. Mas para isso é indispensável que a Comunicação Social atue com a necessária e possível isenção e independência.
Uma Comunicação Social comprometida com qualquer poder em lugar de servir a comunidade não servirá os interesses de quem depende? Uma Comunicação Social dependente não será uma Comunicação Social amordaçada?
Autor: Silva Araújo
Política e bem comum

DM
19 julho 2018