O chumbo do Orçamento do Estado para 2022, a marcação de eleições legislativas para 30 de janeiro e a consequente dissolução da Assembleia da República, que deverá ocorrer lá mais para o fim do mês, lançaram sobre o PSD e o CDS/PP um corrupio de desenvolvimentos sem par na história destes dois partidos da democracia portuguesa.
Logo após se terem conhecido os resultados das eleições autárquicas de 26 de setembro, em que foi notório o desabrochar de um novo ciclo político, as direções daquelas duas formações partidárias deram mostras de se quererem manter no poder. Se o líder do PSD, Rui Rio, via numa possível disputa interna um empecilho para a boa preparação das eleições anunciadas, o presidente do CDS/PP, Francisco Rodrigues dos Santos, apressou-se a antecipar o congresso eletivo, que deveria ocorrer no próximo mês de janeiro, para 27 e 28 de novembro. Com esta antecipação pretenderia ganhar tempo e espaço ao candidato anunciado a disputar a liderança, Nuno Melo.
O que se passou a seguir é do conhecimento geral. Enquanto o PSD reuniu presencialmente os seus órgãos para democraticamente e com respeito pelos estatutos decidir sobre as datas para a realização das eleições diretas e do respetivo congresso, o CDS/PP apressou-se a cancelar o conclave anunciado para Lamego, em 27 e 28 de novembro, num Conselho Nacional virtual e marcado à pressa, argumentando que já não haveria tempo para preparar as listas dos candidatos a deputados.
Então em que ficamos? Se o PSD o fez e tem tempo suficiente para preparar legislativas, o argumento da direção do CDS cai por terra.
Confesso que é um motivo que ninguém entende e só fragiliza ainda mais o partido e, principalmente, quem ao arrepio das mais elementares regras de convivência partidária atira o CDS/PP para um beco onde não vislumbro qualquer saída feliz. A menos que por milagre se assista a um volte-face e venha a ser atempadamente realizado o congresso cancelado, é isto que irá acontecer.
Quando o país precisa de uma alternativa de governo credível e agregadora, é lamentável testemunhar o que está a acontecer a um dos partidos fundadores da democracia portuguesa.
Felizmente, o que se passou no PSD foi um bom exemplo de democraticidade interna e desse comportamento só terá a beneficiar o próprio partido e o país. Quer seja Rui Rio, quer seja Paulo Rangel a ganhar a corrida à liderança, ambos já deram mostras de grande maturidade.
No entanto, olhando os últimos desenvolvimentos, acredito que Paulo Rangel será o vencedor desta contenda que o levará a ser candidato a primeiro-ministro de Portugal.
Paulo Rangel com as duas vitórias consecutivas no conselho nacional do seu partido parte com um avanço assinalável. O PSD e o país anseiam por um protagonista com um discurso claro e diferenciador. Um líder que faça a distinção e que balize as diferenças com o PS que nos tem governado. Um ator cosmopolita que transporte consigo novidade e mudança e, acima de tudo, capaz de devolver a esperança a largas camadas da população portuguesa que deixaram de acreditar que é possível construir um futuro melhor. Um agente galvanizador da mudança de que o país precisa, capaz de mobilizar os descrentes e de entusiasmar os mais jovens.
Enfim, como aqui vaticinei no passado dia 28 de setembro, quando escrevi que não se podia descartar a interrupção abrupta da atual legislatura, também hoje me atrevo a dizer que é possível, apesar da escassez de tempo, construir uma sólida alternativa ao atual governo.
Apesar das perplexidades inexplicáveis que se verificam no CDS/PP, acredito que o centro-direita em Portugal pode gerar um projeto de governo capaz de implementar as reformas de que o país precisa e de oferecer aos portugueses uma nova esperança em mais progresso.
O futuro é já amanhã e o tempo tirará todas as dúvidas.
Autor: J. M. Gonçalves de Oliveira