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Perguntas pragmáticas, respostas filosóficas

A propósito da apresentação, hoje, do livro FUT360L – Da Pereira à Pedreira, uma colega questionou-me: escolhes os temas ou são os temas que te escolhem?

Pergunta filosófica, a que filosoficamente respondo: tem dias. Em função de vivências diárias no treino, aulas ou observação de jogos e/ou comportamentos, surge-me uma ideia e desenvolvo-a. Outras vezes, como acontece hoje, respondo a questões.

Ainda sobre o livro, uma das pessoas que me deu o prazer de escrever algo nos “prefácios” do mesmo, afirmou/questionou: hoje em dia, os jovens não leem. Após tantos anos de experiência prática, ler/refletir, mas acima de tudo escrever, que influência tiveram estas ações na tua visão do futebol/desporto?

A 1ª afirmação assusta-me. É sinal que não vão comprar o livro. Mais a sério, as inúmeras vivências/experiências, práticas/reflexões/escritos, fizeram-me ter uma visão panorâmica da modalidade, daí o 360 inserto no título. E foi esta que me permitiu ver a floresta e não apenas as “árvores” que tinha à frente. Enquanto treinadores preocupamo-nos com os atletas/equipa que treinamos e é perante eles que respondemos parecendo que nada mais importa. Se sairmos dessa “bolha” e conseguirmos ter uma visão de “drone”, talvez possamos perceber se aquilo que entendíamos como ações positivas para aquele grupo com que interagíamos, o é para a totalidade dos praticantes e/ou para quem vive da, e na, modalidade. Eu diria que esta pode também ser considerada uma visão de…SELECIONADOR NACIONAL.

Outra questão bastante pertinente foi-me colocada por uma professora de história, a quem a lei do fora de jogo sempre fez confusão. A pergunta foi: sendo tu acérrimo defensor do fair-play e ética desportiva, como consegues (con)viver num meio (futebol) onde há corrupção e violência?

Respondo-lhe com outra questão: sendo tu defensora de um ensino de qualidade e exigência, e dando mostras disso diariamente, como consegues (con)viver num país com (des)governos que publicitam uma escola de qualidade para todos, e em simultâneo dão a entender aos alunos que basta lá irem, que do resto - aprovação independentemente dos conhecimentos adquiridos – tratam eles, governo, através de leis que nós, professores, temos de cumprir. Respondi à questão? Completo, informando-te que quando desistires do teu sonho educativo - que comungamos - eu desisto do meu outro que passa por, nesta área específica, futebol, onde há corrupção e violência como em qualquer outra área da sociedade, dar o meu contributo para que aumentem exponencialmente adeptos do fair play e da ética desportiva e consequentemente diminuam abruptamente os que não comungam destes ideais. Acredito que para ti é bem mais percetível esta minha tomada de posição do que a lei do fora de jogo que agora, com o advento do VAR até para mim começa a ser de difícil compreensão, pois, geometria descritiva nunca foi a minha área preferida.

Um enorme agradecimento aos autores destas pragmáticas questões e, até logo, no mini-estádio da Avenida Central.


Autor: Carlos Mangas
DM

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24 janeiro 2020