Na antiguidade clássica o conhecimento da esfericidade da terra era uma evidência comprovada cientificamente exceto, quem sabe, para as pessoas que já tivessem estado nos…quatro cantos do mundo. Já no futebol, apesar de também haver cantos (livres e penaltis) nunca houve a mais pequena dúvida sobre a esfericidade da bola. Tão certo como a terra e a bola serem redondas, só a inoperacionalidade do VAR. Escusam os seus defensores de lembrar n+1 situações revertidas a favor da verdade desportiva que eu arranjo facilmente n+2 não revertidas, que contribuíram para uma completa mentira desportiva. E não sou só eu que o penso e digo, mas também a maioria dos adeptos de futebol deste país.
Ouçam benfiquistas e percebem que o seu adversário direto deveria ter chegado a esta última fase do campeonato com, pelo menos, 10 pontos de atraso; ouçam portistas e compreenderão que o Benfica só ganhou, graças aos árbitros e, nestas últimas jornadas então, com ajudas religiosas também – padres – diz alguém que foi conhecido como o Papa do nosso futebol, pelo que, tal afirmação deve-nos merecer algum crédito.
Contrariamente ao habitual, sou forçado a concordar com benfiquistas e portistas, alternadamente, pois ambos foram ajudados, cada um em seu tempo, o que permitiu ganharem uma distância confortável para uma luta pelo título, a dois. O terceiro classificado, o menos beneficiado dos três, também teve penaltis (incríveis) em catadupa que lhe permitiram terminar com uma pontuação que o coloca no lugar habitual, o de terceiro mais beneficiado.
Pelo exposto, fácil é perceber que o quarto classificado dificilmente poderia aspirar a mais. Concordo, e até concedo que nesta fase final da competição, por culpa própria, deixou cavar um fosso para os lugares da frente. Mas, e como por deformação profissional - professor - não avalio os meus alunos pelo último período letivo, custa-me ver uma equipa técnica ser avaliada e crucificada pelos resultados do último mês. Não consigo compreender adeptos e dirigentes que durante o ano criticaram, justamente, as arbitragens por prejudicarem o clube, no final do ano optarem por criticar e - ao que consta - dispensar a equipa técnica. Em que ficamos?
Diz-se, de forma desdenhosa, que os futebolistas pensam com os pés. Não concordo. Acredito até que a modalidade se torna mais difícil porque se joga com os pés, obedecendo a algo que está na outra extremidade, a cabeça. Mas, ao que vejo, leio e oiço, sou forçado a concluir que, no clube da minha cidade, anda muita gente a pensar com os pés sobre este assunto de dispensa da equipa técnica. E o problema agrava-se e torna-se irresolúvel porque a distância a que os pés estão da cabeça e, consequentemente, do cérebro não permite usar convenientemente a memória, que - parafraseando Fernando Pessoa - é a consciência* inserida no tempo.
*– Faculdade de fazer juízos de valor sobre os próprios atos
Autor: Carlos Mangas