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Pelos vistos, Marega cem, Varandas zero

  1. Eu ia era comentar as agressões aos dirigentes do Sporting). Porém, em 16 de Fevereiro acontece o “caso Marega”. Este jogador maliano do FCP é alvo de persistentes insultos da cariz racista durante o jogo Guimarães-Porto (1-2). Apesar de tudo, consegue marcar o golo da vitória. Pouco depois, perde completamente a paciência. E, como competiria, não alerta o árbitro e o seu treinador para o facto de lhe ser impossível continuar e de que queria que o substituíssem; decide antes responder (indiferencidamente) à bancada minhota. E fê-lo também com várias provocações graves, algumas de cariz racista.

  2. Por que é que a reacção de Marega foi também, racista?). E foi-o, com certeza. Isto porque, logo após o golo, dirigiu-se à bancada, ostensivamente apontando para a pele de um dos seus braços e evidenciando repetidamente que ela era bem castanha, que não era branca, como a dos que o tinham insistentemente provocado. Depois, vê-mo-lo com um par de luvas negras calçadas, o que não é inocente e parece remeter para o símbolo do “black power” dos anos 60 e do grupo mais ou menos terrorista dos “panteras negras” (ou “black panthers”); o qual traz à memória os Jogos Olímpicos (de Tóquio ou do México, não me lembro) em que, sem ninguém os provocar, certos atletas afro-americanos medalhados, levantaram o punho cerrado e calçado com luva preta (em vez de saudarem o público mundial da forma normal e regulamentar). Assim, de luvas negras, Mussa Marega vai à lateral e estende os dedos médios de ambas as mãos na direcção do público do principal clube da “cidade onde nasceu Portugal” (e onde, aliás, Marega jogou em 2016-17). E, como se as anteriores (e generalizadas) 3 provocações não bastassem, o transtornado saheliano lembra-se de pegar numa cadeira (ou num grande balde, não sei) e usá-la na cabeça como coroa; ao que parece, com isso (surprema provocação) querendo macaquear o emblema “afonso-henriquino” do clube vimaranense; e talvez dizendo, “agora, qual é a melhor das coroas, esta minha, ou a vossa?”.

  3. Se todos os seres humanos são “macacos evoluídos”…). Daí que chamar “macaco” a alguém não devia ser insulto; mas até uma afirmação de irmandade. Primeiro, porque as largas dezenas de espécies de macaco que vão precariamente resistindo à Globalização, são uns bichos tão bonitos e simpáticos. As verdades do Darwinismo e da Pre-História andam infelizmente tão esquecidas (ou ignoradas) e não contradizem nem o Cristianismo nem a existência de Deus. Eu tenho todo o orgulho em ser (pela graça de Deus) um “macaco com alma”, descendendo dos meus antepassados simiescos de África, de há mais de 100 mil anos atrás. Se isto põe nervosas pessoas como o jogador Marega, isso deve ser por falta de cultura geral e de senso de humor. Negar a nossa origem simiesca é parecido com a ideia de que “falamos português”. O que falamos é uma forma evoluída de uma das muitas línguas da Itália antiga…

  4. Razões (objectivas) para um maliano ser orgulhoso). São várias e Marega deve conhecer algumas. Uma delas é que Tumbuktu (no Mali) foi a capital de um “império” comercial medieval. Outras, são as dramáticas escarpas de Bandiagara; ou os belos casarões de estilo colonial que os franceses por lá deixaram (em Bamako,p. ex.). Outra (e que esta sirva de irónica e definitiva consolação ao irritável avançado, a quem o Vitória aliás “deve” 13 golos, em 16-17) é que o 1.º nome de Marega é “Mussa”. E foi o grande comandante árabe Mussa (ben Nossair) que, na esteira de seu súbdito Tarik, conquistou em dois anos nada menos que Sevilha, Carmona, Medina Sidónia, Mérida, Viseu e Lugo, só se detendo nas Astúrias (714 d. C.). Melhor que isto…

  5. O anti-racismo, como “religião do Estado Democrático”…). É o que se constata mais uma vez, dado o quase unanimismo e a hipócrita “quase histeria” com que muitas figuras públicas valoraram o episódio. Marcelo foi mais moderado, talvez acabrunhado pelo gigantismo do país que visitava (Índia), comparado com o nanismo populacional e territorial do actual Portugal (cujo 1.º ministro é, para mais, tal como o da Irlanda, de origem indiana). Registe-se contudo que não há Democracia nenhuma, se não houver liberdade de pensamento, expressão e associação. Incluindo a dos tais racistas. Só podem ser reprimidos se, como quaisquer outros, praticarem violências ou crimes; não apenas, pelas suas opiniões.

  6. Por causa de Marega, as agressões a dirigentes do Sporting são “esquecidas”). Tratou-se quase de um “2.º Alcochete”. Desta vez foram 5 desordeiros (decerto ligados às claques) que penetraram em áreas vedadas do interior do estádio e agrediram um vice-presidente, um vogal e a filha menor deste. As pseudo-claques vão ao futebol para, imagine-se, insultar e praticar violências contra os desportistas e os eleitos do clube que fingem representar! Onde é que isto alguma vez se viu? Onde param o Governo e os Tribunais? Que infinidade de tempo é preciso esperar para que o “brunismo” e a sua claque (realmente, a claque parece é ser dele …) sejam adequadamente sentenciadas pelo que aconteceu em Alcochete? Justiça que tarda, não é justiça; e dá nisto. Que interesses esquisitos se movem por baixo das claques? Quando Varandas foi eleito, eu preferia Ricciardi. Porém, reconheço-lhe agora a valentia, lealdade e honestidade que tanto contrastam infelizmente com aquilo em que a lusa grei se transformou depois de 1974.


Autor: Eduardo Tomás Alves
DM

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3 março 2020