1.Li na edição do «Público» de 23 de fevereiro uma carta aberta às televisões generalistas nacionais. Sugeriu-me refletir sobre o mundo da informação. Informação que é transmitida pelos meios tradicionais: imprensa escrita, rádio, televisão. Hoje, também, e muito, pelas chamadas redes sociais: facebook, youtube, instagram, twitter…
Antes de mais, previno: o apontar alguns aspetos que considero menos bons não é motivo para esquecer o muito de bom que se faz. O esforço que diariamente se exige dos bons profissionais para trazerem até nós muito do que se passa no mundo em que vivemos. Muito. Não tudo. Muito longe de ser tudo. Mesmo em relação a este pequeno mundo.
2. Na missão de informar há, logo de entrada, uma decisão a tomar: do muito que acontece, o que deve ser convertido em notícia? Das muitas notícias que lhe chegam, quais as que o jornalista deve dar a conhecer?
Sim, porque há muita coisa de que a Comunicação Social não fala.
Pessoas há que, tendo visto um automóvel arranhar um poste de iluminação pública, ficam muito desiludidas quando, pela manhã do dia seguinte, ao lerem o jornal verificam não haver a mínima referência ao sucedido. Como se a ferradela de uma pulga fosse motivo para ir à Urgência do Hospital…
Há, realmente, uma seleção a fazer. Quem a faz e com que critério?
Em princípio, o jornalista. O critério, o do bem comum; o do interesse geral. É esse que deve prevalecer.
Pode dar-se o caso de outros interesses se sobreporem: o de agradar a um amigo, o de cair nas boas graças de alguém influente ou de quem se depende, o de obedecer a ordens recebidas, o de ser fiel à ideologia...
Às vezes, até, de forças estranhas à Redação. Isso levaria a falar da censura, que dizem ter desaparecido. Se sim ou não…
Quem decide deve ser sempre o jornalista, consciente da sua missão de servidor do bem comum. Compete-lhe informar, quer goste quer não, do que as pessoas têm o direito/dever de ser informadas.
3. Há acontecimentos silenciados porque não têm interesse informativo. Há acontecimentos com interesse informativo silenciados porque há interesse em que não sejam divulgados. Há acontecimentos sem grande interesse informativo amplamente divulgados porque alguns interesses assim o exigem.
Também há acontecimentos de interesse que a Comunicação Social não noticia porque nenhum jornalista deles teve conhecimento. Este ainda não adivinha. E é bom que se não deite a adivinhar.
4. Além da seleção existe a valoração.
Decidido o conjunto de factos a noticiar, que valor atribuir a cada um? Que lugar vão ocupar no espaço do jornal ou no alinhamento do telejornal? Que destaque lhes vai ser dado? Com que se vai abrir o noticiário ou o que vai ser escolhido para manchete?
Também aqui deve imperar o critério jornalístico.
5. O bem comum exige que toda a informação seja verdadeira e íntegra. Nada de dizer só meias verdades ou a parte conveniente da verdade. Nada de notícias falsas (as fake news).
O jornal deve ser, para os historiadores, uma fiável fonte de informação.
Se a notícia é redigida apressadamente…
6. Décadas atrás falava-se em três mitos da informação: o da objetividade, o da independência, o da liberdade. As coisas terão mudado muito?
Se é verdade que na generalidade é muito difícil, se não impossível, ser inteiramente objetivo (a objetividade pura existe nos números da lotaria e pouco mais) não é menos verdade ser necessário possuir uma informação cada vez mais independente e mais livre. Só esta serve verdadeiramente a democracia contribuindo para a existência de cidadãos cada vez mais conscientes, mais livres, mais responsáveis.
Hoje há duas dependências (não as únicas) a evitar: a da ideologia e a dos interesses económicos. Aquela até tem levado a falsear a história e a defender o derrube de monumentos.
Fico por aqui. Haverá mais na próxima semana, se Deus quiser.
Autor: Silva Araújo