Por estes dias fala-se das dificuldades e dos perigos no acesso ao Presépio e de quem para os evitar recorre a estratagemas vários. A história repete-se na nossa vida e na vida em sociedade, com o povo anónimo, os pastores, os magos e os herodes a procurarem atingir, pelas suas posições e meios, o seu objectivo. Agora, como antes, há os que se movem por solidariedade e ajuda ao próximo, os que se guiam pelas estrelas e os políticos que nos vão incentivando a colaborar com os seus ideais.
Os saldos de António Costa. Nesta altura, não há saldos no comércio, mas António Costa que os proibiu para já, por causa da pandemia, começou com os seus. Dirigiu, como é tradição, a mensagem de Natal aos portugueses, desta vez, uma mensagem resumida e monotemática. Não disse tudo o que tinha a dizer – o próprio o admitiu –, e ao fazer opções, tal levou-o para o que tinha mesmo para dizer. Dizer o menos possível, só o que lhe interessava. A campanha eleitoral vai precisar de argumentos e não lhe era conveniente adiantá-los. Além do mais, os dias vão ser certamente duros e quentes os temas em discussão. E convém que as respostas sejam bem elaboradas, ainda que em cima da hora não dêem tempo à oposição para as dirimir. É verdade que o combate à pandemia é premente, mas o discurso podia e devia ter incidido noutras matérias que preocupam os portugueses. Os melhores saldos foram deixados para mais tarde, logo que a campanha comece.
Sinais de hipocrisia. O Partido Socialista tem procurado captar o voto útil, evidenciando que se os sociais democratas vencerem as eleições legislativas se aliarão ao Chega, o partido mais à direita do espectro político e dito de extrema-esquerda. Os socialistas apresentam o caso dos Açores para chamarem a atenção de que caso percam as eleições a receita será aplicada por cá. Ora, mesmo que isso venha a acontecer, não é nada diferente do que aconteceu na Assembleia da República desde finais de 2015, com o Governo a fazer acordos com o PCP e o BE, aliás, em correspondência com o voto dos portugueses. Que moral existe em considerar perigoso um acordo entre os partidos de direita quando se admite um acordo entre os partidos de esquerda? Estarão mais salvaguardados os interesses dos portugueses com uma coligação ou entendimento entre os últimos? Evidentemente que não. Os votos são todos iguais, sejam de direita ou de esquerda. E se o povo é quem mais ordena, então aceite-se democraticamente as suas decisões. Não há democracia de esquerda. Há democracia. Ponto.
Pela borda fora. A contrastar com outros casos, em que o primeiro-ministro usou de benevolência e muita água benta – em concreto, não chegou a demitir um ministro que tantos casos criou e tanta desconfiança deixou das instituições –, o Governo não esteve com meias medidas na substituição apressada e aparentemente prepotente do ex-Chefe do Estado Maior da Armada, Mendes Calado. Quando se não respeitam as comissões de serviço por segregação de pensamento, há algo de errado em quem decide e em quem dá cobertura. Estava em causa o parecer sobre uma lei ou o cumprimento da mesma? Não estamos num Estado de direito? Desculpas esfarrapadas não servem para demitir pessoas que foram legitimamente nomeadas e cumprem bem a sua função. Quando isso acontece, no mínimo, há uma inconcebível tirania.
O algoritmo. É essa a desculpa: a Linha SNS24 não atende, alegadamente por excesso de procura e por o algoritmo de gestão do fluxo não estar bem desenhado. Não é a primeira vez que isso acontece e atendendo que há que conter e controlar, a todo o custo, a proliferação de casos covid 19, o facto é preocupante e um obstáculo ao desiderato.
O exemplo do Presépio. Serve para a vida de crentes e não crentes. O Presépio é um exemplo completo para a vida em sociedade e um manual para quem nos governa. Inspira a autenticidade, o serviço desinteressado, a predisposição para fazer um caminho longo e evitar os atalhos. Aos governantes aconselha ainda o diálogo, a aceitação comprometida da missão, mesmo que o contexto seja difícil.
Autor: Luís Martins