É o que se espera. Portugal precisa e os cidadãos exigem que o governo cumpra a sua função e que os ministros, todos, sem excepção, desempenhem a missão que a cada um foi confiada e que, de resto, juraram cumprir no acto de posse. Tal só será possível com uma sempre actuante e boa coordenação e um eficaz desempenho por parte de cada um dos executores, num ambiente de lealdade e grande responsabilidade, com respeito pelas promessas sufragadas e os mais direitos dos cidadãos. Se o edifício ceder em algum destes alicerces a actividade governativa ficará prejudicada e poderá até ser contraproducente, o que não se deseja de todo.
O actual Governo goza do apoio de maioria absoluta no Parlamento, tal como os dois de Cavaco Silva e o de José Sócrates. No entanto, este terceiro de António Costa tem, sem sombra de dúvidas, melhores condições do que os daqueles. Na verdade, como bem caracterizou António Barreto, num excelente artigo de opinião no jornal Público, ao contrário do que aconteceu nas outras maiorias absolutas, “os governantes [actuais] pareciam ter tudo o que era necessário para vencer”. E na descrição que fez dessas condições, Barreto listou as variáveis de contexto que podem fazer a diferença e de que goza o actual governo. Até a inépcia da oposição tem andado a favor do Executivo socialista! Além do mais, Costa ainda contou, desde que governa o país, com a disponibilidade do segundo maior partido político português para as reformas de que o país precisa, não se esperando que a mudança concretizada no último Domingo na direcção do Partido Social Democrata vá alterar essa disponibilidade. Apesar disso, o Executivo está a deitar tudo a perder, a começar pela propensão em levar para o seio do Governo as guerras intestinas do Partido Socialista, designadamente, a da sucessão de António Costa, e pela diminuição da coordenação governativa, em parte resultante da concentração do primeiro-ministro no seu “sonho europeu”.
Com poucos meses decorridos desde a tomada de posse do elenco governativo, a ministra da Saúde, Marta Temido, deixou de ter a confiança dos portugueses, atenta a desgraceira evidenciada nas urgências de obstetrícia e ginecologia, que teima em continuar, sendo certo que os problemas, destas e de outras valências, não são exclusivos de um ou outro hospital, mas que estão generalizados por todo o território nacional.
Recentemente, a propósito do aeroporto de Lisboa, veio a lume a briga entre o primeiro-ministro e o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, alegadamente, por falta de articulação – essa é a explicação oficial –, embora se suspeite haver outras razões ainda não admitidas para o lamentável episódio tornado público. “Um erro grave”, nas palavras de António Costa, acusando o ministro, que terá certamente consequências irreparáveis na eficácia, não apenas ao nível da pasta das Infraestruturas, mas também do Governo como um todo. Acabaram manchadas a autoridade e a credibilidade do Executivo. O primeiro responsável do Governo não demitiu o ministro que assinou um despacho, alegadamente à revelia do que havia sido definido pelo Conselho de Ministros, e nem aquele se demitiu, o que faz supor que a culpa pode bem não ser solteira, antes casada, embora por conveniência política o desfecho tenha sido o de que, apesar da gravidade, não houve vontade firme de errar por parte de Pedro Nuno Santos e muito menos intenção deste se antecipar ao Congresso do Partido Social Democrata. Talvez mais à frente surjam outros elementos que ajudem a clarificar o que na realidade aconteceu, no entanto, a oportunidade do ministro das Infraestruturas vir a tornar-se o sucessor de António Costa talvez se tenha perdido em definitivo com o episódio, o que terá dado jeito a quem não perdeu tempo a tornar elegíveis outros nomes para a função. A verdade é que, enquanto não houver paz no Executivo, o futuro dos portugueses continuará condicionado.
Autor: Luís Martins