1. Não tive a oportunidade de ler na íntegra o discurso de Jorge Miranda nas comemorações do Dia de Portugal. Sirvo-me de ecos transmitidos pela Comunicação Social. E na minha reflexão de hoje aplaudo vigorosamente a referência feita aos atropelos de que é vítima a Língua Portuguesa.
“Não posso deixar de reagir contra os atropelos que [a língua portuguesa] vem sofrendo entre nós”, disse.
E concretizou: os “constantes” erros de sintaxe na comunicação social, o ensino em escolas superiores portuguesas por professores portugueses a alunos portugueses em língua estrangeira, a denominação de algumas escolas superiores também em inglês e o “alastramento” de denominações comerciais de empresas portuguesas operando em Portugal em inglês.
Para Jorge Miranda o uso da língua portuguesa constitui um “direito fundamental dos cidadãos portugueses e brasileiros, tal como dos cidadãos de Cabo Verde, da Guiné-Bissau, de São Tomé e Príncipe, de Angola, de Moçambique, de Timor”.
“O direito de falar, de ouvir, de escrever, de ler, de receber mensagens, o direito de comunicar em português. Um direito e também um dever”, reforçou.
2. Recordo-me de ter lido em antologias organizadas por Abel Guerra, que no meu tempo de estudante se usavam como livro de texto, diversos elogios à língua portuguesa. De Antero de Figueiredo, de Olavo Bilac, de Correia de Oliveira.
Cito alguns parágrafos do de Antero de Figueiredo, transcrito de «Jornadas em Portugal»:
«Eu amo tanto a nossa língua, esta nossa querida língua portuguesa! — fidalga de nascença pelos pais, cedo emancipada e logo rica, modesta no aspeto, dada no trato, grave no som, sóbria na tinta, gentil de linhas, e por ser desembaraçada de partículas inúteis, precisa nos conceitos, rápida nas máximas, evidente nos contrastes; e ao mesmo tempo cândida para bucólicas, terna para lirismos, altiloquente nas estrofes das epopeias sonorosas, esquiva no diálogo curto, avolumada no discurso lento, sacudida no remoque vivaz do termo popular, e culta em pausada escrita de humanistas; — eu amo tanto a minha língua, que era meu regalo, depois de bem a ler nos velhos mestres, apurada e saborosa, mas serena e fria, ir ouvi-la ao ar livre, por essas províncias fora, falada, cantada, rezada, à gaia gente da planície, à triste da beira-mar, à meditabunda da serra, à humilde dos povoados esconsos».
E a última flor do Lácio, de Olavo Bilac!: Amo-te, lira singela/ que tens o trom e o silvo da procela,/ o arrolo da saudade e da ternura.
3. O idioma pátrio é um património que devemos saber preservar, usar, enriquecer.
Peço esculpa se estou a cometer algum erro, mas dá-me a impressão de no ensino se privilegiarem as Tecnologias não prestando a devida atenção às Humanidades. Umas e outras contribuem para a formação da pessoa.
Lê-se pouco. Há dias ofereci a uma pessoa amiga livros de que, com grande pesar meu, tive de me desprender. A resposta, muito amável, foi esta: agradeço mas não tenho espaço para os guardar.
A gente nova usa mais o computador, o tablet, o telemóvel do que o livro. E nas modernas tecnologias os livros não são, penso, o que mais procuram. Daí a pobreza de vocabulário. Os frequentes erros de gramática.
Além disso, no dia-a-dia, recorre-se com muita frequência a termos estrangeiros, com predomínio dos ingleses. Importa-se, em vez de utilizar e enriquecer o nosso.
4. Há que incentivar o gosto pela leitura. Criar o hábito da leitura. Estimular clubes de leitura.
Continuo a pensar que uma boa prenda pode ser um bom livro.
Os responsáveis pela formação das novas gerações farão bem se aconselharem a leitura diária de algumas páginas de um livro criteriosamente selecionado.
Tais leituras até podem ser tema de conversa em família, vencendo o monopólio da televisão, libertando os mais novos da escravatura dos jogos de computador e contribuindo para o diálogo entre os membros do agregado familiar.
Autor: Silva Araújo