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Páscoa é libertação

2. Quando se fala em libertação podemos ser tentados a atribuir à palavra um sentido exclusivamente político. O empenhamento em ajudar as pessoas a recuperarem a liberdade e a viverem em liberdade.  Até houve quem identificasse libertação com descolonização, o que nem sempre correspondeu à realidade. Descolonizações houve que não passaram de uma simples transferência de domínio. É caso para perguntar que libertação vivem alguns dos povos descolonizados.

São diversas as ditaduras que hoje escravizam o homem, como são diversos os jugos que as pessoas devem saber sacudir. Não nos esqueçamos, por exemplo, da ditadura da sociedade de consumo e da ditadura da moda. 

3. Que o cristão não deve renunciar ao seu compromisso político, é uma verdade a proclamar com insistência. Trairia a sua missão se não procurasse construir um mundo mais solidário, mais justo, mais fraterno. Deve saber ocupar o seu lugar no parlamento, na administração pública, na vida sindical, onde quer que os problemas dos homens se debatam. Deve empenhar-se na transformação das estruturas, cada vez mais montadas ao serviço do lucro.

Mas quando participa na atividade política que o cristão não deixe de agir cristamente, renunciando à condição de pau mandado nas mãos de qualquer líder.

Não há de esquecer-se de que os fins não justificam os meios. De que a atuação política não deve ser o mesmo que liberdade para a violência ou para o semear da anarquia, nem deve servir para libertar os seus e escravizar ou explorar os que professam outra ideologia ou militam noutro partido. 

4. Importa lembrar que a sociedade, seja ela qual for, é formada por homens e é o que esses mesmos homens pretenderem que seja. Ilude-se a questão sempre que se pretende reformar o grupo sem procurar reformar cada um dos elementos que o constituem. A mais sensata postura de trânsito não evitará o caos se os homens capricharem em não a cumprir.

Cristo não deixou de proclamar a necessidade de nascer de novo e de acabar com o homem velho, que é o homem opressor de outro homem.

5. A libertação que se impõe é um trabalho que cada um de nós precisa de levar a cabo. Libertarmo-nos dos nossos vícios e teimosias. Libertarmo-nos das nossas manias e das nossas birras. Libertarmo-nos do nosso orgulho e dos nossos caprichos. Libertarmo-nos do nosso egoísmo.

Que a Páscoa nos dê forças para trabalharmos pela construção de um mundo em que o homem viva liberto de todas as outras opressões: a fome, a doença, a ignorância, o ódio, a guerra e todas as misérias.

Vive-se num mundo marcado pelo individualismo. Cada um pensa unicamente em si. Cada um pretende impor ao grupo a sua vontade, e não receia esfrangalhar o mesmo grupo se vir que as suas opiniões não são aceites. Depois, é o que se vê.

6. Quanto à atitude do cristão face à política, há que evitar, por defeituosos, dois extremos. Um, o de cruzar os braços e deixar correr, vivendo a certeza de que, tendo assistido à Missa ou nela participado, rezado o terço, feito as primeiras sextas-feiras, tudo está cumprido. Outro extremo, o de reduzir o homem  a uma dimensão meramente material e a preocupar-se com uma felicidade que não vai além dos acanhados limites terrenos.

Amar o homem, amar todo o homem e o homem todo. Amá-lo e não explorá-lo. Amá-lo e não amesquinhá-lo nem mutilá-lo.

É urgente a construção de um mundo novo. Um mundo onde os homens possam ser mais homens e melhores filhos de Deus.

 


Autor: Silva Araújo
DM

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20 abril 2017