Há alguns dias recebi uma mensagem com esta frase “Os Nossos irmãos Mortos à Procura da Felicidade”, depois de ter colocado algumas notícias do dia, entre elas, uma imagem de um naufrágio de um barco com migrantes que procuravam refúgio. Fiquei pensativa. A mensagem era sentida. Depois referia “os nossos”, logo, era como se fosse família direta.
Entretanto tive acesso a um Tweetdo “Papa [email protected]”, que referia: “A todos nós, o Senhor dá uma vocação para nos fazer descobrir os talentos e as capacidades que possuímos a fim de os colocar ao serviço dos outros”. Na verdade, posso pelo menos alertar, ainda que seja do conhecimento de todos, a situação de guerra e de miséria que se vivencia a nível mundial. Há acontecimentos que não controlamos, mas que podemos dar o nosso contributo, ainda que modesto, para ajudar a melhorar a vida dos nossos irmãos.
Quantas carências e vicissitudes terão passado para tomarem a decisão de partir sós ou com a sua família em busca de uma vida melhor. Ou talvez não. Mas tornava-se necessário, ainda assim, arriscar tudo em situação de desespero, em prol da defesa da família, já que se encontravam privados da sua dignidade e da sua liberdade. Na verdade, a vida constitui-se atravessando toda uma série de barreiras.
Uns nascem em berço de ouro. Outros, nascem no meio de guerras, de tormentas, de miséria, de conflitos, ou seja, tanta desigualdade! Na vida, será necessário travar uma luta acrescida no sentido de conseguirem alcançar o bem-estar. Mas tudo é relativo. Há quem nasça pobre e seja feliz, que nasça rico e seja infeliz. A cada um, a sua luta e a sua preocupação.
Não se encontra escrito nas estrelas, que todos alcançaremos a almejada felicidade na Terra. Também existem as diferentes raças. Mas todos possuímos o sangue da mesma cor. Temos de aceitar as diferenças e respeitá-las. Tinha um colega de raça negra, com um tom de pele bem escuro. Mas era feliz, estava sempre bem-disposto, com uma graça para dizer, no sentido de tornar os outros alegres, de aliviar o ambiente quando este se tornava pesado por qualquer motivo. Tinha orgulho na sua raça.
Um dia, encontrávamo-nos em grupo num café para tomar o pequeno-almoço. Pediu um café com leite. O funcionário perguntou se era claro ou escuro. Ele retorquiu a sorrir: “Precisamente, no tom da minha pele, bem escuro”. Levava a vida na desportiva, feliz, bem-humorado. Questionei se era sempre assim, com tão boa disposição. Respondeu que gostava de partilhar felicidade, ainda que pudesse encontrar-se a chorar interiormente. Pensei que era, na verdade, um carisma que possuía. Nem todos, possuímos essa capacidade, ainda que queiramos.
Hoje, recordo tantas atrocidades que se cometeram ao longo da história da humanidade. O conhecimento e o contexto eram então outros, ainda que nada justifique. A evolução dos tempos, faz-nos mudar o nosso modo de pensar, de estar, há novos estilos de vida, para o melhor e para o pior. Penalizamo-nos pelos factos ocorridos antigamente.
Contudo, pela mão do homem, continuam, infelizmente, a existir hoje em dia, a cada momento, novas atrocidades, com enorme gravidade e com novas realidades inerentes à época que vivenciamos. Possuímos a prova viva destes acontecimentos, que assistimos nos meios de comunicação social, às vezes quase em direto. Uma amiga comentou a este propósito que tinha lido algures: “A história é um profeta com o olhar voltado para trás: Pelo que foi, contra o que foi, anunciando o que será”. Há alguns dias, através de um canal de televisão, ouvi o testemunho impressionante de um refugiado que, finalmente, tinha conseguido iniciar o seu processo de integração num país de acolhimento europeu.
Referiu que tinha deixado para trás o seu país em guerra, na companhia do seu irmão que pouco depois seria morto durante a fuga. Mais tarde, depois de atravessar o deserto, seria apanhado e vendido. Posteriormente, iria parar a um centro de acolhimento que mais parecia a jaula de uma prisão. Conseguiu fugir, tentar atravessar o Mar Mediterrâneo. Sofreu um naufrágio. Conseguiu nadar e ser acolhido por um navio humanitário.
Ainda assim, não foi fácil todo o processo até ser acolhido e integrado. Contei de um modo resumido, unicamente a título de exemplo. Quantos casos idênticos, ou mesmo piores, existem hoje em dia, alguns com crianças? Até quando? A minha amiga, também comentou: “cada ato de destruição, encontra a sua resposta, mais cedo ou mais tarde, através de um ato de criação”.
Em Deuteronómio 15:11, está escrito: “Nunca deixará de haver pobres na terra, é por esse motivo que te ordeno: abre a mão em favor do teu irmão, tanto para o pobre, como para o necessitado da tua terra”. A caridade é a maior das virtudes existentes. Há situações que não podemos mudar ou controlar, mas podemos dar sempre o nosso contributo no sentido de minimizar os seus efeitos. E há tantos exemplos positivos por esse mundo fora!
O Papa Francisco referiu: “Rezemos para que o Senhor liberte as vítimas do tráfico e nos ajude a responder ativamente ao grito de tantos irmãos e irmãs, privados da sua dignidade e liberdade”.
Santa Maria, rainha da paz, da esperança, ajuda-nos a encontrar soluções que vão ao encontro das necessidades sentidas, em particular, neste mês de Agosto em que o Santo Padre tem como intenção as famílias, para que tudo as favoreça, enquanto verdadeiras escolas do amanhã e laboratórios de humanização.
Autor: Maria Helena Paes