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Participação

1. No início de uma reunião do Conselho Pastoral Arquidiocesano D. Jorge Ortiga pediu aos cristãos da Arquidiocese que se envolvam e participem, em «comunhão» e com sentido de «corresponsabilidade», na «causa comum» de renovar a Arquidiocese através da marca sinodal ou colegial («Diário do Minho», 26 de fevereiro de 2017).

Há líderes que se queixam muito da falta de participação. Não há quem colabore, ouve-se a cada passo. Não há quem levante uma palheira do chão, dizem algumas donas de casa. São sempre os mesmos a fazer tudo, comentam outros.

Há quem não colabore porque não quer; porque é muito mais cómodo. Há quem não colabore porque não sabe ou porque não pode. Há quem não colabore porque não deixam; porque quem dirige concentra tudo nas suas mãos e receia que lhe façam sombra. 

 

2. Uma comunidade é constituída por várias unidades que possuem algo em comum.

Cada uma dessas unidades é uma pessoa. Um ser humano criado à imagem e semelhança de Deus. Um ser consciente e livre. Um ser que pensa e sente. Um ser dotado de certas capacidades, porque Deus em todos investiu.

Cada um desses membros deve sentir-se corresponsável pelo bem da comunidade e deve participar na vida dessa mesma comunidade.  Deve ter consciência de que não é nenhum bebé e de que o respeito que deve ter por si mesmo exige se não deixe acriançar.

Uma comunidade onde não há participação é uma comunidade doente.

 

3. A participação exige a instituição do diálogo. Diálogo que é o direito de falar e o dever de ouvir. Diálogo que é uma avenida de dois sentidos e não uma rua de sentido único, onde os de cima dão ordens e os de baixo, mesmo contrariados, obedecem. Mas o diálogo feito rua de sentido único é a negação do diálogo.

Para participarem, os membros da comunidade devem andar atentos à vida da mesma comunidade e ser informados do que nela se passa. Uma comunidade onde cada um se refugia no seu canto pode ser um simulacro de comunidade, mas comunidade não é.

 

4. A participação concretiza-se de diversas formas: desempenhando tarefas distribuídas por cada um dos membros da comunidade; elogiando decisões que se tomam e iniciativas que se promovem; alertando para o menos acertado de algumas decisões; levantando problemas e disponibilizando-se para ajudar a resolvê-los ou sugerindo as melhores soluções.

 

5. O absentismo e o mutismo dos membros da comunidade têm as suas causas. Uma delas pode ser o facto de as pessoas se terem instalado e acomodado. Outra, a falta de estímulo, porque já quis intervir mas cortaram-lhe as asas ou consideraram disparatadas as suas ideias. Porque tentaram o diálogo e foram mal sucedidas. Porque vivem a convicção de que, digam o que disserem,  não adianta nada. Porque desvalorizaram os seus contributos e as suas capacidades. Porque têm receio de serem mal interpretadas.

Também há pessoas que só sabem deitar abaixo e são incapazes de uma crítica construtiva.  

A causa pode estar ainda na indisponibilidade do líder que, absorvido de tal maneira no trabalho, não consegue arranjar tempo para ouvir os outros ou para solicitar colaboração.

Há líderes que não sabem ouvir. Que não aceitam que as suas decisões possam ser discutidas. Que não reconhecem o valor e as capacidades dos outros. Que só aceitam a colaboração de quem lhes diz amém e executa cegamente as suas ordens.

 

6. A participação exige muito de todos os membros da comunidade: dos que dirigem e dos que são dirigidos. Que os de cima saibam ouvir e os de baixo saibam falar. Que todos tomem consciência de que o bem da comunidade exige que todos caminhem de mãos dadas, reconhecendo as capacidades de que cada um é dotado, olhos fixos num objetivo comum. 

Exige, onde for caso disso, uma Igreja menos clerical e mais Igreja. Uma Igreja onde os fiéis leigos desempenham as tarefas que lhes competem e o sacerdócio comum se não reduz a palavras bonitas.


Autor: Silva Araújo
DM

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11 maio 2017