O Parque Nacional da Peneda Gerês nasce formalmente a 8 de maio de 1971, pelo Decreto n.º 187/71, de 8 de Maio, razão pela qual comemora agora 50 anos de existência. O Eng. Lagrifa Mendes é um nome incontornável quando se fala do PNPG, porque a ele e à sua perseverança se deve a criação do primeiro e único Parque Nacional em Portugal reconhecido internacionalmente por parte da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Mas já antes, Tude de Sousa em 1915 tinha afirmado, “isto merecia um Parque Nacional”,
Com um pouco mais de 70.000 há, o PNPG estende-se desde o Planalto da Mourela até ao Planalto de Castro Laboreiro, passando pelas Serras do Gerês, Amarela, Soajo e Peneda encerra um valioso património natural, patrimonial e cultural de que hoje nos orgulhamos todos.
Ao longo dos seus 50 anos de vida, muita coisa se modificou nem sempre para melhor, mas isso não impediu que o PNPG continue a ser hoje um repositório riquíssimo do nosso património natural. Terra de lobos e águias é também terra de diversificadas manifestações culturais das gentes que resistem a abandonar este território. A eles se deve em grande medida património que esteve na base da classificação do PNPG. As suas gentes e seus modos de vida souberam ao longo dos anos desenvolver as suas atividades sem destruir o meio ambiente que os rodeava. Quando o PNPG faz 50 anos é de elementar justiça que se faça o devido reconhecimento de uma realidade nem sempre compreendida, porque foram eles os verdadeiros obreiros e arquitetos de uma paisagem de cortar a respiração.
Hoje mais do que nunca a importância da existência de áreas protegidas de que o PNPG é o seu expoente máximo é crucial para o desenvolvimento do País. Estamos a viver uma época em que as alterações climáticas estão na ordem do dia e como alguém disse “as áreas protegidas são laboratórios vivos onde se testam modelos de desenvolvimento sustentável que, com as necessárias adaptações, devem poder ser aplicados ao todo nacional”. Nunca como agora se reconhece que a sustentabilidade e o uso racional dos recursos naturais é fundamental para a sobrevivência humana. Nunca como agora a opinião pública esteve tão atenta e ciente da necessidade de protegermos modos de vida mais amigos da natureza. É portanto a hora de acarinhar mais o nosso único Parque Nacional. Exigir que se preserve e se promova fazendo com que cumpra na sua plenitude os objetivos para que foi criado. É uma responsabilidade que toca a todos, decisores políticos nacionais e locais, habitantes e visitantes, tornar o PNPG cada vez mais a nossa “jóia da coroa” da conservação da natureza.
Os desafios que hoje o PNPG enfrenta são diferentes do que eram há 50 anos, mas nem por isso menos exigentes. O abandono populacional que atinge todo o mundo rural, não foi muito amortecido aqui e isso é desde logo um sinal de preocupação e sinal que nem tudo correu bem nestes 50 anos. A atividade agrícola tradicional aliada a uma pecuária extensiva estão em declínio e isso altera equilíbrios que se mantiveram ao longo de muitos anos e cujo resultado se desconhece. O aumento da procura do PNPG como destino turístico necessita de medidas de regulação que evitem uma procura massificada com impactos negativos que tem de ser evitados a todo o custo e é por isso que as 5 “Portas do PNPG” terão de vir a assumir no futuro um papel mais interveniente na regulação dessa visitação, por forma a mitigar o impacto que esta acarreta. A proliferação de espécies invasoras continuam sem ter uma solução à vista e tal omissão pode por em causa habitats que não podemos de forma alguma deixar desaparecer. A prevalência de incêndios florestais continuam a ameaçar as áreas de proteção total da Mata do Ramiscal, Mata do Cabril e da Mata de Albergaria, pelo que o recente reforço de agentes florestais no terreno é sem dúvida uma excelente notícia. A recente decisão de o ICNF partilhar a gestão do PNPG com os municípios que o integram numa Comissão de Cogestão, onde estão também presentes a Academia, as ONG’s, a Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte e o movimento associativo local, abrem uma janela de esperança, principalmente porque vai permitir uma gestão de maior proximidade. O território do PNPG é riquíssimo mas também muito sensível às agressões que hoje o ameaçam. Deve ter por isso uma gestão de proximidade que permita agir com rapidez perante as ameaças e reconheça as especificidades de um território tão variado como o é o do PNPG. Esta comissão de cogestão senta à mesma mesa representantes de interesses nem sempre coincidentes mas que tem de se entender a bem de um bem maior que é a preservação e salvaguarda do nosso único Parque Nacional. Parabéns ao PNPG pelos seus 50 anos de vida e parabéns a todos quantos ajudaram a construir e a salvaguardar esta joia da natureza.
Autor: Luis Macedo