Faz hoje oito dias que se falou no dia da mulher. A luta pela igualdade de género tem dado frutos secos. Diz António Costa: “a igualdade deve ser uma causa de todos os dias”. E é verdade, mas o inferno está cheio de boas intenções. Marcelo Rebelo de Sousa, o recém-empossado para o segundo mandato, afirmou que “quer mais mulheres na sua equipa”. Também é verdade mas que nesta verdade não ganhe a retórica. Mas esta mesma verdade mostra-nos quão longe estamos de ver mulheres nos lugares de chefia. Por exemplo, há quase tantos reitores nas universidades quanto as universidades e reitoras são uma pequena fração, muito mesmo diminuta. Na verdade não se vê razão para tal. Será que o atavismo ainda pesa assim tão significativamente no século eletrónico? Como professor sempre vi as colegas ganhar tanto como eu, mudarem de escalão ao mesmo tempo. Nunca se pôs a situação de distinguir eles ou de elas por estas serem donas de casa e mães . A mulher já teve consagração em tempos remotos quando a descendência era precária pondo em causa a continuidade da espécie. Consagraram-na como mulher-mãe. Há profissões onde as mulheres estão em maior número e auferem vencimentos iguais. Mas noutros desempenhos ganham menos e nunca sobem às chefias. Mas porquê esta dicotomia? Porque pesa na igualdade um historicismo de séculos. Há que a pouco-e-pouco ir ganhando a guerra da mentalização e sabemos como mudar mentalidades leva tempo. Mas atenção, é preciso que as mulheres não queiram fazer um feminismo para combater o machismo. Era escolher a outra ponta da mesma vara. Se caírem na tentação de fazer uma guerra feminista, os homens mais se barricam na ancestralidade machista e as mulheres não conseguirão vencer este passado. Todo o animal acossado na sua toca vira fera. O homem perdeu a sua velha identidade; já não é senhor absoluto do seu lar; tornou-se parceiro e divide as tarefas domésticas. Começou aqui a paridade que se aplaude? Noutros tempos a cozinha era para as mulheres, hoje é para quem chega primeiro. Mas a paridade não se resume a isto, ela só será adulta através de uma mentalidade efetiva. O homem, por vezes, chama a si o troglodita do passado. Mas o que se passa com o namoro de hoje? Minhas senhorinhas, quando o namoro é de fel não há casamento de mel. Transformar o homem sapiens em homem tecnológico não chega para a mudança porque a partilha de tarefas domésticas não passa de um adestramento. É preciso vencer a irracionalidade que sedimentou ao longo dos séculos. Um exemplo: vamos viver no século tecnológico, que já se anuncia como primavera pujante, e são poucas as mulheres que escolhem cursos universitários tecnológicos; mas isto vai fazer uma supremacia masculina com consequência lógica: os lugares de topo vão ser para os programadores e especialistas das máquinas tecnológicas: robôs, inteligência artificial, hologramas, comandos remotos, viaturas autónomas e o mais que se não imagina, vão ser instrumentos de trabalho empresarial, mesmo na gestão, na administração e mesmo nas profissões liberais Quem se deixar no analfabetismo destes conhecimentos, será sempre figura de segundo plano, situando-se como indiferenciados na base da pirâmide social. Não se deixem iludir pelas retóricas das campanhas da paridade, façam a paridade. Não é na foz que principia o rio. É preciso fazer muito mais, ir para lá dos discursos e boas intenções, é preciso ir à nascente. Não pode querer ser igual quem não é igual. Não deixem fazer a diferença.
Autor: Paulo Fafe