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Para um glossário eleitoral autárquico

A quadragenária democracia à portuguesa precisa, urgentemente, de ser refundada e refletiva, pois muitos dos mais novos auferem de direitos para os quais não tiveram de lutar e, por isso, pouco valorizam. Por outro lado, não podemos continuar a fazer de conta que está tudo normal, quando se vão perpetuando nos postos – sobretudo de índole autárquica – forças e ideologias, figuras e figurões suficientemente desgastados e com projetos ultrapassados de governação. Mal vai uma localidade (concelho, freguesia ou aldeia), se os eleitos ganham pela ausência dos votantes… acomodados, reféns e afeitos ao dejá vu! 

* Listas – elenco de concorrentes que aceitaram sair de algum anonimato, continuando anónimos… embora servindo interesses nem sempre claros e entendíveis; 

* Candidatos – peças dum certo xadrez jogado por abstratos à luz da lua em fase de nova, isto é, com sombras, sob suspeitas e sem rosto; 

* Independentes – uma espécie de jihadistas sem rastilho… embora bastante bem armadilhados… sem nunca estralejarem; 

* Promessas eleitorais… com incidência autárquica – uma espécie de pincel sem cabo, se bem que untado numa lata de pez em decomposição… e fora de validade; 

* Campanha eleitoral (no sentido lato ou mais estrito) – um certo tempo de anúncio, de apresentação e de discussão das propostas a votar, mas onde a mentira não pode ser beneficiada em desfavor da verdade. Quem promete o que não é capaz de fazer deveria ser criminalizado muito para além da derrota nos votos… pois, quem engana deve ser julgado com mão pesada e não ser aliviado pela impunidade; 

* Iniciativas de campanha – umas coisas que, noutras épocas soam a fait-divers de entreter, mas que em tempo da dita campanha parecem ações de grande fervor, embora pagas e nem sempre levadas a sério ou onde se dizem coisas sem o mínimo de seriedade e com pouca credibilidade; 

* Cartazes de propaganda – facetas mais ou menos douradas ou até bizarras de quem pretende impressionar o público, criando frases pequenas (slogans), feitas à medida do público-alvo ou fazendo-se, no intervalo, alvo de algum público; 

* Votação – exercício cívico – normalmente presencial – onde se exprime aquela que devia ser uma escolha avaliada e atenta… A votação devia ser obrigatória, sendo sancionado o não-exercício deste direito, com penalizações nas regalias sociais… atuais e futuras. Desta obrigatoriedade todos teríamos a beneficiar, a começar pelos eleitos, pois teriam outra legitimidade. Por que temem tantos tal obrigação legal? 

* Abstenção – a arma dos cobardes, que fogem na hora de se pronunciar, mas que, depois, reivindicam sem direito e algum alarido!

= Este breve glossário poderá ajudar-nos a sabermos aferir as nossas ideias pelos nossos ideais e nunca a fazermos o contrário de pensarmos a partir daquilo que, egoisticamente, vivemos. Usando um pensamento de São José Maria Escrivá: porque voas como ave de capoeira, se podes voar com asas de águia?

 


Autor: A. Sílvio Couto
DM

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3 julho 2017