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Para prevenção da síndrome neurológica de hiperactividade em crianças

1. O deputado do PAN, André Silva, disse na Assembleia da República, no dia 10 de Julho, que “os portugueses gastam diariamente 19.550 euros na compra de medicamentos para a Hiperactividade das crianças. Não podemos ignorar este grave e silencioso problema”. Tem razão. E, tratando-se de um fenómeno relativamente novo, há uma pergunta que tem de se fazer: porquê tantos casos de crianças com síndrome de hiperactividade? Terá a ver também com novos hábitos sociais? Resumindo, entende-se por hiperactividade um transtorno neuro-comportamental que envolve a tríade de sintomas: hiperactividade, desatenção e impulsividade Estima-se que afecta entre 3% a 5% de crianças (uma pesquisa, no Rio de Janeiro, constatou haver 8,6% de casos), sobretudo em idade escolar, porque antes da idade escolar é difícil estabelecer um diagnóstico. Parece ser um transtorno com alta prevalência de comorbidade, isto é, com perturbações de comportamento que vão sendo adicionadas a essa fragilidade orgânica. E mais frequente no sexo masculino.

2. No estado actual da investigação sobre esta síndrome, tem-se constatado haver atraso na maturação cerebral nas regiões pré-frontais, nomeadamente no córtex pré-frontal lateral, áreas ligadas a funções cognitivas; alterações do controle inibitório, memória espacial, tempo de reacção; menor habilidade psicomotora, estimando-se que 30 a 50% das crianças sofra de problemas de coordenação motora; em adultos que tiveram PHDA verificou-se uma diminuição de cerca de 14% do volume do cíngulo anterior e um menor volume cerebral… Em termos de comportamento, as consequências podem-se manifestar tanto em actividades da vida diária como em actividades escolares, dificuldades psicomotoras, habilidades sociais…Por causa das dificuldades de adaptação que advêm destas perturbações, vão acontecendo formas adaptativas de comportamento que nem sempre são fáceis de gerir. Nesta área, é muito relevante o papel da qualidade afectiva da relação da figura materna: não me recordo de nenhum caso de comportamento difícil quando a figura materna era uma pessoa doce e compreensiva...

De modo geral, o projecto terapêutico mais preconizado tem sido um composto de medicação e apoio psicoterapêutico, sendo a Família e a Escola sempre partes activas na ajuda; conheço, porém, algumas experiências de sucesso sem recorrer a medicação. Embora nem todas as crianças precisem de psicoterapia, em princípio todas precisam de orientação psicológica.

Na maioria dos casos, o tratamento medicamentoso utilizado tem sido baseado em drogas estimulantes (o mais usado tem sido o metilfenidato, Ritalina, um derivado anfetamínico, cuja venda tem vindo a aumentar desde 2004), em antagonistas adrenérgicos e outros

3. Um dado importante a reter: todos os investigadores estão de acordo que estes sintomas podem ser influenciados por dois factores: a vulnerabilidade genética e as adversidades ambientais. É sobretudo para este segundo aspecto que eu queria chamar a atenção. Em termos genéticos, os resultados da investigação até hoje conhecidos apontam para alterações do gene receptor D4 de dopamina (DRD4), um neurotransmissor presente nas regiões pré-frontais. E os factores genéticos desempenham um papel decisivo na alteração da sequência do desenvolvimento de activação e desactivação de genes que moldam a arquitectura cortical. E sabemos também que o desenvolvimento cerebral é caracterizado por uma série de etapas críticas e que cada uma delas deve ser correctamente cumprida para que, no final, o cérebro configure a sua estrutura normal. Ora, é precisamente nestes períodos de alta plasticidade de adaptação que o desenvolvimento das estruturas do cérebro se torna mais susceptível a ser influenciado pelos estímulos que, se forem inadequados, podem afectar negativamente o seu correcto desenvolvimento.

Portanto, um dano no sistema nervoso nestas fases críticas de desenvolvimento pode causar défices que só mais tarde se irão manifestar, quando a estrutura prejudicada se tornar funcional. E, entre os factores ambientais que podem concorrer para estas perturbações, conta-se a exposição materna, durante a gravidez, ao tabaco, ao álcool, ao stresse, à cafeína…No que se refere ao fumo do tabaco durante a gestação, tem sido considerado como o factor não-genético mais relevante em relação ao PHDA: numa relação de cerca de 4 vezes mais em filhos de mães fumadoras do que em filhos de mães não-fumadoras. Outro factor determinante, que continua a ser estudado, são as complicações pré-natais e perinatais, a que se somam casos de prematuridade e baixo peso ao nascer…E todos sabemos como vão sendo frequentes os casos de partos prematuros e crianças com baixo peso ao nascer.

É preciso saber porquê e evitar… Outro factor apontado pela investigação como factor de risco são as consequências dos aditivos nos produtos alimentares, durante a gestação. Basta reparar no folheto dos alimentos que todos os dias se compram. Outros factores também constatados como potenciais desencadeantes foram a insuficiência de zinco, de ferro, de ácidos gordos (ou graxos)...

Quer dizer, há muitos comportamentos que devem ser repensados durante a gravidez.


Autor: M. Ribeiro Fernandes
DM

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13 julho 2019