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Para onde vais, Europa?

1.Face à onda de irreligiosidade que se abateu sobre o Velho Continente não deixa de ser oportuno lembrar terem os pais da moderna Europa – a hoje União Europeia – sido pessoas de fortes convicções cristãs. Aliás, se não houvesse tais convicções, teria sido muito difícil fazer cicratizar feridas terríveis deixadas pela II Guerra Mundial. Deve-se-lhes, estou convencido, a reconciliação franco-alemã, protagonizada por Robert Schuman e Konrad Adenauer.

A Europa em que vivemos afasta-se, em muitos aspetos, dos princípios e dos valores cristãos. Há, penso, justificadas razões para perguntarmos: para onde vamos? para onde nos querem e estão a levar?

2.É comummente aceite ter o que veio a ser a atual União Europeia nascido em 09 de maio de 1950, com a «Declaração Schuman». Redigida por Jean Monnet, foi comentada e lida à imprensa por Robert Schuman, Ministro dos Negócios Estrangeiros da França, em reunião com a Imprensa convocada para as 18h00 no Salon de l’Horologe do Quai d’Orsay. Nela se apresentou uma proposta de criação de uma Europa organizada, requisito indispensável para a manutenção de relações pacíficas.

Por esse motivo a 09 de maio se vem celebrando, anualmente, o «Dia da Europa», conforme decisão tomada pelos Chefes de Estado e de Governo na Cimeira de Milão, em 1985.

Anos após aquela Declaração veio o Tratado de Roma, que criou a Comunidade Económica Europeia. Foi assinado nesta cidade em 25 de março de 1957 por seis estados: Itália, França, Alemanha, Luxemburgo, Holanda e Bélgica.

3.Para a criação da moderna Europa tiveram uma influência decisiva políticos da craveira dos citados Robert Schuman e Konrad Adenauer, assim como Alcide De Gasperi (faleceu antes da assinatura do Tratado de Roma) e Giorgio La Pira. Todos eles, como afirmei, cristãos convictos. Relativamente a Alcide de Gasperi, Robert Schuman e Giorgio La Pira estão em curso os processos de beatificação.

Com a sua prática cristã e política mostraram a alguns laicos de hoje o que é a verdadeira laicidade e a real separação entre a Igreja e o Estado.

Em carta a Robert Shcuman, em 1951, citada por este emPour L’Europe, Konrad Adenauer escrevia:

«Creio que é um sinal sumamente favorável, para não dizer providencial, o facto de o peso das obras que se hão de realizar recair sobre os ombros de homens como o senhor, os do nosso amigo comum o presidente De Gasperi e os meus próprios, animados como estamos da vontade de construir o novo edifício da Europa sobre pilares cristãos. Creio que, ao longo da história europeia, poucas conjunturas terão oferecido perspetivas tão favoráveis como as atuais para levar esta obra a bom porto»(Gustavo Villapalos e Enrique San Miguel, «O Evangelho dos Audazes, pag. 38).

Quando, em 1949, tomou posse do cargo de chefe do governo (chanceler) da República Federal da Alemanha, Adenauer afirmou, em dado passo do seu discurso: «Toda a nossa obra será animada pelo espírito da civilização cristã ocidental e pelo respeito dos direitos e da dignidade do homem. Nós esperamos conseguir, com a ajuda de Deus, guiar para o progresso o povo alemão, e contribuir para a paz na Europa e no mundo»(Pe. Jorge Guarda, «O Mensageiro, 24 novembro 2011).

4.Principiou a atual União Europeia, como disse, com seisEstados-membros fundadores: Alemanha (naquele tempo, Ocidental), Bélgica, França, Holanda, Itália, Luxemburgo.

Juntara-se-lhes, posteriormente:Áustria, Bulgária, Chipre, Croácia, Dinamarca, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Estónia, Finlândia, Grécia, Hungria, Irlanda, Letónia, Lituânia, Malta, Polónia, Portugal, República Checa, Roménia, Suécia.

5.Atrevo-me a sugerir a todos os que creem nas vantagens da União Europeia, particularmente aos atuais líderes das suas instituições, uma reflexão sobre quem eram os pais da nova Europa, os princípios por que se orientaram, os valores que defenderam. Não será muito benéfico um regresso às origens?


Autor: Silva Araújo
DM

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8 julho 2021