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Para muitos, a violência é o único sentido!

  1. É impossível viver sem sentido. Mas são cada vez mais os que afirmam não encontrar um sentido na vida. E, nessa medida, não serão poucos a transvazar um não-sentido para a vida.

Como se isso não bastasse, esse «não-sentido» é profusamente exaltado e categorizado com sendo o «único sentido». Vejam-se os crescentes confrontos entre grupos, onde não faltam feridos nem mortos.

  1. Há inclusive um estilo musical – chamado «drill» – que enaltece os comportamentos violentos.

Segundo alguns peritos, este género alimenta uma excitação colectiva e um descarrilamento emocional que facilmente deposita os jovens na violência.

  1. Porventura, já é tarde para apurar como chegámos aqui. Fundamental – e cada vez mais urgente – é porfiar para que possamos sair daqui.

Urge restaurar a confiança – há muito quebrada – entre jovens e adultos.

  1. Acontece que o universo dos adultos – percepcionado pelos jovens – também está longe de ser pacífico. E, por isso, exemplar.

A violência juvenil replica, de forma pouco convencional, a pluriforme violência que os adultos «esbanjam» pelo mundo.

  1. Preocupante. Não estamos a deixar um mundo melhor para os jovens. E, ao mesmo tempo, não estamos a deixar jovens melhores para o mundo.

Geração após geração, é a lógica da vingança, velha de séculos, que impera, gangrena e destroça.

  1. Alternativa? É espantoso que seja um autor ateu a modelar o futuro em torno do Sermão da Montanha (cf. Mt 5-7).

Kurt Vonnegut – é este o seu nome – assegura que, apesar de muitos avanços, continuamos amarrados ao pior do passado.

  1. A violência torna os poderosos mais poderosos, os ricos mais ricos e, consequentemente, os pobres mais pobres.

Gera-se uma espiral de ódio que consome as energias: «A vingança provoca vingança, numa cadeia ininterrupta de morte e destruição, conectando as nações de hoje às tribos bárbaras de há milhares de anos».

  1. É por isso que ele propõe, como guião para a mudança, o sobredito Sermão da Montanha.

Só através dele, será possível substituir a lógica da vingança (estribada na «lei do Talião») pela lógica da misericórdia e do perdão.

  1. Vonnegut não tem dúvidas: «Sermos misericordiosos é a única boa ideia que tivemos até agora».

Não basta, porém, que se trate de uma boa ideia. É necessário que ela se concretize em momentos felizes. Sim, porque a infelicidade faz germinar o rancor e exponenciar o ressentimento, caldo gerador da violência.

  1. E, bem rente a uma linguagem trivial mas sábia, Vonnegut não se exime a sugerir. Não procuremos apenas uma felicidade ideal, «difícil», mas distante.

Cultivemo-la, passo a passo, em cada dia, na atenção dada aos outros, no cuidado da natureza. E – permitir-me-ia acrescentar – na abertura serena ao Criador. Afinal, o mundo ainda pode (voltar a) ser um «jardim»!


Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira
DM

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7 fevereiro 2023