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Para defesa da democracia - Só o nosso voto conta

Refletindo sobre as eleições de Domingo, ainda recordo com saudade a participação massiva com quê o povo festejou o primeiro ato-eleitoral público em liberdade, após o 25 de Abril de 1974; e tamanha e tão compacta era a mole humana a caminho das urnas que, seguramente, demorei duas horas a chegar ao local onde depositei a minha escolha.

Porém, não mais se repetiu essa autêntica cadeia humana de vontade e alegria a caminho das urnas; e isto porque as promessas de igualdade, pão, saúde, habitação, educação num mundo de liberdade e fartura ao povo prometidas, depressa se esqueceram e nunca se concretizaram, arrastando consigo o abandono, a desilusão, o descrédito e a indiferença na política e no caráter da maioria dos atores que dela donos se sentem.

É, então, que com o passar do tempo a Democracia perde vitalidade e verdade por força dos atropelos e excessos de certas ideologias e ações de muitos políticos e entidades públicas e privadas; e, assim, os escândalos de corrupção, roubos, fraudes e falências fraudulentas sucedem-se, arrastando e aumentando a pobreza, o desemprego, a miséria e as desigualdades.

Perante esta triste realidade o povo afasta-se, descrê dos políticos e das instituições, sobretudo dos amanhãs que cantam e vira costas cada vez mais às umas e aos atos eleitorais; e, obviamente, em resultado desta tomada de decisão, cresce em flecha, escandalosamente mesmo, a abstenção para desilusão dos políticos que, em desespero de causa, interrogam-se e apelam ao voto com novas e mais sofisticadas promessas, mas sem sucesso.

Já se começa a pensar em tomar o voto obrigatório ou, mais prosaicamente, em criar incentivos para estimular, atrair o povo a votar, a regressar em massa às urnas; mas esta não me parece a melhor, a mais séria, a mais certeira forma de convencer os eleitores; pois, a meu ver, sendo o voto um ato de vontade, ele não se compra, não se vende, mas simplesmente se dá, se oferece a quem o merece pela competência, idoneidade, seriedade e valor publicamente assumidos e demonstrados em palavras e atos junto do povo.

Pois é, os políticos só têm que modificar a sua forma de encarar, ver e sentir a política e de atuar face à realidade, pondo fim ao compadrio, à demagogia, ao favoritismo, ao arranjismo, à partidarite; e, sobretudo, entregarem-se à ação política de forma generosa, altruísta e verdadeira, restituindo à Democracia a sua pureza de valores e princípios, de realidade e solidariedade, de justiça e verdade sonegados e perdidos.

Agora, penso absolutamente que abster-se, não votar é um erro, um grave erro; e se errar é humano, como diz a sabedoria popular, não aprender com os erros é uma estupidez; então, para que a abstenção não faça aumentar a estupidez no país, vamos votar na certeza de que, mais do que um ato de inteligência, é um dever de cidadania e uma manifestação de plena liberdade.

Depois, não nos esqueçamos de que os extremistas, sejam de direita ou sejam de esquerda, nunca se abstêm, porque eles sabem que a conquista do poder não se conseguindo pelo recurso à violência e às armas, faz-se de pequenas conquistas, de pequenas vitórias, com o contributo indispensável do voto; e, por isso, a abstenção dos que sentem desiludidos, frustrados, desmotivados, descrentes e amorfos com a política e a atuação dos políticos ajuda imenso ao avanço e conquista do poder pelos extremismos.

Se mais não fora, caro leitor, esta é a mais forte e lógica razão para dizermos não à abstenção que põe a Democracia em perigo; e, assim sendo, para sua defesa só o nosso voto conta.

Então, até de hoje a oito.


Autor: Dinis Salgado
DM

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22 setembro 2021