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Pandemia: a oração, para quase toda a gente, é a via mais recomendável para a combater

Alguém dizia que estes tempos complexos de dor e de incerteza nos obrigam a pensar com objectividade sobre a vida e sobre o que dela podemos esperar. O que é possível fazer da parte da cada um? No princípio deste ano, ninguém suporia o que está a acontecer. O nosso dia a dia era relativamente calmo e sem grandes surpresas. O bem estar, uma certa comodidade generalizada que, aparentemente, toda a nossa sociedade experimentava, levava-nos a viver uma espécie de confiança despreocupada e contínua. Tudo era igual e já visto, tudo era sempre o mesmo e sem novidades. Actualmente, a situação é outra, diferente e problemática. Para já, o isolamento caseiro obrigatório começa a transbordar as fronteiras da nossa paciência. Sentimos interiormente uma preocupação por chegar ao fim da pandemia. Como sempre devemos manter-nos em casa, as portas de saída e até as janelas aparecem-nos na imaginação com uma espécie de grades, que nos fazem pensar numa cadeia. E, com certeza, a estarmos agradecidos verdadeiramente por nunca termos tido a infelicidade de nos vermos encerrados legalmente num estabelecimento prisional. A conta do telefone e do telemóvel aumentou consideravelmente. Notamos que nos irritamos com os nossos familiares com mais facilidade. Alguns, os que, habitualmente, em tempos de livre circulação, nos incomodam mais, basta-nos olhar para eles, ou recordar que sempre estão à nossa beira para começar a sentir dentro de nós uma espécie de irritação espontânea, parente da urticária. Contudo, como de Espanha veio a indicação de que esta incómoda patologia de comichão é um sintoma de quem pode ter contraído o malfadado vírus, tentamos desviar a atenção para um mundo mais benévolo. As informações dos “media” não são muito esperançosas. Bem sei que a comunicação social deve requerer da nossa parte um certo sentido crítico e vem-me à mente aquele velho aforismo sobre o modo de encarar uma notícia. Esta só aguça a curiosidade do público, não quando um cão morde um homem, mas quando um homem morde um cão. Reconheço que esta observação tem a sua graça. Mas continuo em casa, como um recluso inocente, e ninguém me sabe dizer até quando, de facto, esta condição actual vai ser superada. Um telefonema traz-me uma certa alegria de um amigo, grande adepto do futebol. Pelos vistos, na Alemanha, o reabrir das competições já tem data marcada. E o Governo de cá, tanto quanto me confidenciou, já começa a pensar no assunto. O seu mau humor em relação a este nosso actual poder político, leva-o a comentar: “Andamos sempre atrás dos outros. Na Alemanha, são rigorosos. Por cá, ainda se vai estudar o assunto...”. E desligou abruptamente, sem que eu lhe pudesse recomendar que tivesse um pouco mais de calma e de paciência. Para ser totalmente franco, porém, devo confessar que o corte abrupto da ligação me regozijou, porque, nada tendo contra o futebol nem contra o autor daquela chamada, a verdade é que, no fundo, apetecia-me mais estar só, naquele momento, sem ninguém perturbar a aparente paz da minha condição de recluso do lar. Até quando? Sim, até quando? Economicamente, não se está a caminho duma tragédia? Nada sei de economia em profundidade. Não é nem nunca foi o meu forte. Deve haver, com certeza, gente competente neste campo mais preocupada com o assunto do que eu. Pensar nele, pelo que a mim me cabe, não vislumbro nenhuma utilidade ou contribuição positiva. A única achega útil da minha parte é a de pedir a Deus que, apesar do mal de toda esta trapalhada mundial, as dificuldades sejam superadas e o mundo encontre, com a sua ajuda, os caminhos certos para dominar tão tremenda crise. E suponho também que é o que quase toda a gente deve fazer.
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva
DM

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25 abril 2020