Porque ao longo da nossa História de mais de oito séculos nunca nada nos caiu do céu ou da terra brotou espontaneamente, temos sido um país de suadores; e de tal modo que muita camisa se torceu e muito tratamento profilático dado foi aos sovacos, espantando, assim, o respetivo pivete.
E, então, Nobreza. Clero e Povo do país fizeram um autêntico suadouro; por exemplo, D. Afonso Hennques para firmar a independência do Condado Portucalense, em 1143, foi, sem dúvida, o primeiro e esforçado suador e já o presidente Marcelo Rebelo de Sousa a puxar, hoje, o país para a frente e manter a toque de caixa o governo de António Costa é, obviamente. o último e assumido suador.
Senão, vejamos: recuando no tempo e assestando o tal canudo de ver Braga sobre as quatro Dinastias (Afonsina, de Aviz e as duas de Bragança, excetuada a Filipina de triste domínio castelhano, pois D. Sebastião deixou a Pátria órfã ao suar as estopinhas em Alcácer Quibir contra os infiéis mouros, a ponto de sucumbir) que compõe a nossa História Real, inúmeros são os suadores lusitanos a dar uso mesmo à trilogia sangue, suor e lágrimas que sempre nos acompanhou nos piores momentos fossem eles de conquistas, reconquistas, independência, expansão, descobrimentos e, até, de fundação da nacionalidade; e ínclitos suadores são reis, nobres clérigos, governadores, soldados, marinheiros e arraia-miúda como: D. Afonso Henriques, D. João I, Vasco da Gama, Bartolomeu Dias, Pedro Álvares Cabral, Afonso Costa. Teófilo Braga, Manuel de Arriaga, Paiva Couceiro, Machado dos Santos, Pimenta de Castro, Sidónio Pais, marechal Gomes da Costa e, inclusive, António de Oliveira Salazar suador foi para, executando uma ditadura financeira, e de quem o atual ministro das Finanças, Mário Centeno, fiel discípulo é, para sanear as contas públicas e pôr o país na ordem.
Pois bem, honra e louvor lhes sejam dados, já que grandes suadores foram em defesa de causas comuns, nobres e justas e sempre a Bem da Nação; e longe, muito longe de holofotes e câmaras de televisão que são o lema de quem se serve sem servir e de quem dá com a mão direita, para tirar, de imediato, com a esquerda.
Agora, chegados aos tempos modernos de estranhos usos e mórbidos costumes, será que o país continua a ser um suadouro? Sem dúvida que é um tremendo suadouro, só que momentos e causas há de bem suar, como igualmente os há de inglória e péssima suadela; e, aqui, cabendo como exemplo de bons e abnegados suadores os desportistas, os bombeiros e as parturientes lhes assistindo está o mérito da competência, da honestidade e da solidariedade, ficando para os maus e lãzudos suadores que são os exploradores, especuladores, gananciosos e aldrabões o demérito da desonestidade, da falcatrua, da exploração e da gatunice.
Claro que onde se vê, claramente visto como viu Camões, o assumido e mau suador é na vida política nacional, pois é nela que obviamente escasseiam os bons e genuínos suadores, abafados pelos canhestros e maus suadores; e se a estes tempo e vontade sobram para impor e espalhar o mal comum, àqueles tudo lhes é negado para darem o litro em prol do bem comum e das nobres causas.
E, assim, politicamente mau e falso suador será todo aquele que sobe às cavalitas dos outros, que engraxa o chefe, que lambe botas, que passa à frente dos outros às cotoveladas e aos pontapés; e, sobretudo, este mau suar é maleita que ataca, como verme verrinoso nos tempos que correm, os jovens que pouco ou nada sabendo da vida, arrotam postas de pescada sobre tudo e todos, traem camaradas e amigos para se posicionarem na grelha de partida na luta por um lugar ao sol da República, seja no Parlamento ou numa qualquer autarquia, seja numa secretaria de Estado ou, melhor ainda, num ministério.
E tudo isto sem um pingo de vergonha e pouca ou nenhuma firmeza de caráter, independência de juízo e honestidade intelectual, mas, tão-só empurrando, verrumando, intrigando, traficando, bajulando; obviamente num declarado hino de louvor ao mau suar que desonra e trai os mais de oito séculos de História que já levamos.
Por isso, com tão mau suar de tantos dirigentes, governantes e políticos é que continuamos num país de cantadeiras e madraças cigarras, quando antes deveria ser de laboriosas e exemplares formigas.
Então, até de hoje a oito.
Autor: Dinis Salgado
País de Suadores

DM
24 outubro 2018