Então, vejamos: a vinda triunfal do papa Francisco a Fátima e a canonização dos pastorinhos, a vitória no festival da Eurovisão, o Benfica a ser tetracampeão, a saída do Procedimento por Défice Excessivo, o ministro das Finanças, Mário Centeno, apelidado de Ronaldo pelo ministro das Finanças alemão, ou seja, o melhor do planeta, um Presidente da República de consensos, beijinhos e afetos que transporta esta alegria e exaltação, esta subida da autoestima nacional por aí fora e, sempre ele, o Cristiano Ronaldo a continuar o melhor futebolista do mundo.
E, a juntar a esta onda de êxitos, uma maré alta no turismo, estimando-se que, no próximo ano, sejamos visitados por dois milhões de turistas e uma crescente euforia a invadir algumas empresas, por exemplo, do setor têxtil, do calçado e da tecnologia; apesar da imensa sangria, provocada pela emigração dos jovens licenciados, a atividade económica e o desenvolvimento tecnológico e científico caminha a bom ritmo.
Entretanto, o governo da geringonça está de boa saúde e recomenda-se; e, não tanto pela eficiência e alcance das medidas que vai tomando, mas por obra e graça dos sapos vivos que os seus parceiros de coligação parlamentar, BE e PCP, vão engolindo, mais dos bons fluidos, dos humores positivos que inesperadamente caíram sobre o país como um dom celestial em oposição aos maus pronúncios preconizados pela vinda do diabo anunciada por Passos Coelho, chefe da oposição.
E, mais do que tudo, esta passividade, este comodismo, esta cultura de indiferença e alheamento em que o povo vive mergulhado, embora sofredor, humilhado, espoliado, pobre; e de que os políticos se aproveitam para levarem avante os seus projetos pessoais e de grupo, bem como as constantes ambições de poder.
Todavia, não nos iludamos e, muito menos, nos olvidemos de que somos um país de altos e baixos, de depressões e euforias, de alegrias e tristezas; e, talvez, mais de baixos que de altos, porque, se bem nos lembrarmos, apesar dos êxitos da Expo 98, da presença na final do Euro 2004 que perdemos para a Grécia, a partir de 2011 com a vinda da troika, o país afunda-se, deprime-se e as glórias passadas transformam-se em pesadelos a que nem a vitória do Euro 2016 sobre a França faz esquecer e aliviar.
Depois, tenhamos sempre presente que, para além de um país de Ronaldos, somos igualmente um país de Oliveiras e Costas, Ricardos Salgados, Sócrates, falências de bancos, bancarrotas e a mão pesada da troika; e isto de nós faz um povo deprimido, triste e prisioneiro de uma dívida externa monumental que os nossos netos, bisnetos e trinetos, e quem sabe tetranetos, terão de pagar.
No Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, o Presidente da República defendeu um país independente e livre: Independente do atraso, da ignorância, da pobreza, da injustiça, da dívida, da sujeição; e livre da prepotência, da demagogia, do pensamento único, da xenofobia e do racismo.
Agora, as boas intenções, o otimismo, os apelos, a exaltação, os afetos e beijos da Presidente Marcelo terão algum impacto e poder na resolução dos nossos problemas, ou não passam de uma agradável forma de entreter o povo? A meu ver, podem exercer um efeito mais negativo do que positivo sobre as cabeças menos críticas, cultas e pensantes pela carga de anestesia emocional, político-social e cultural que acarretam; e isto para já não falarmos no conúbio institucional que se vem mantendo entre Belém e São Bento e que leva a pensar que vivemos no melhor dos mundos.
E o que nos leva a praguejar:
- Porra, vai cá uma nortada!
Então, até de hoje a oito.
Autor: Dinis Salgado