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Padre João Torres, exemplo e visão! – A propósito do Presépio Vivo de Priscos

A XVI edição do Presépio Vivo de Priscos, cuja inauguração ocorreu no passado dia 11 do corrente mês de dezembro, tem este ano como foco alertar para a violência no namoro. Contou com a presença de Marta Nogueira que em 2015 sobreviveu a uma tentativa de homicídio perpetrada pelo ex-namorado.

Trata-se de um acontecimento que extravasa largamente as fronteiras da freguesia, do concelho e do próprio país, constituindo um marco irrefutável do turismo religioso da nossa região.

Fundado pela comunidade paroquial de S. Tiago de Priscos no ano de 2006, o Presépio tem vindo a crescer de forma sustentada, a envolver muitos cidadãos das freguesias vizinhas e a afirmar-se como o maior da Europa, contando na edição atual com mais de 600 figurantes distribuídos por cerca de 90 cenários, o que leva os visitantes a experienciar com grande realismo os tempos da vida de Jesus.

O Presépio Vivo de Priscos é um espaço com cerca de 30 000 metros quadrados, onde são recriados quadros vivos referentes às culturas egípcia, judaica, romana, assíria, grega e babilónica. Oferece aos muitos milhares de visitantes que anualmente o percorrem, entre muitas outras, quatro grandes representações onde se destacam – “O Casamento Judaico”, o “Cortejo da Luz”, “O Julgamento” e o “Funeral” - para além de uma larga oferta de comidas e bebidas disponíveis nas casas das aldeias judias e romanas, também aí representadas. O cenário de maior evidência é, como não podia deixar de ser, para a Família de Nazaré, Jesus, Maria e José, âmago desta multifacetada representação que nos transporta ao verdadeiro significado do Natal, tão arredado dos nossos dias.

No entanto, muito mais do que a sua grandiosidade, o Presépio Vivo de Priscos é um verdadeiro oásis na vida de alguns cidadãos privados de liberdade e que nele encontram os meios para a sua libertação, com respeito e dignidade.

Na verdade, graças à ação do padre João Torres, pároco da freguesia, coordenador da Pastoral Penitenciária da Arquidiocese de Braga e grande timoneiro deste majestoso projeto, o presépio tem funcionado ao longo dos anos como um laboratório de como deve ser feita a reinserção social de reclusos.

É com visão impregnada de humanismo e com uma postura atuante de como deve ser Igreja, que aquele sacerdote tem envolvido reclusos da cadeia de Braga na construção do presépio, demonstrando, deste modo, que é possível recuperar as pessoas acreditando nelas e dando-lhes a oportunidade, através de um trabalho digno, de se reintegrarem na sociedade.

Na recente entrevista que concedeu à Radio Renascença, o padre João Torres foi bem claro nos seus propósitos e explanou com minúcia e frontalidade os pecados de que enfermam os serviços prisionais portugueses.

Nesse diálogo que manteve com os entrevistadores, não só se limitou a apontar falhas e falta de recursos de que sofrem os intervenientes no processo de reeducação nas cadeias portuguesas, como também apontou caminhos para a implantação de uma verdadeira política de reabilitação social no nosso país. E foi mais longe ao afirmar que não está a ser cumprida a lei de 2009 sobre a liberdade religiosa em meio prisional. Lembrou que para defender a vida é imprescindível ter um assistente espiritual dentro das prisões e nos hospitais, locais onde muitas vezes essa mesma vida está vacilante e ameaçada.

No que concerne ao tema da violência doméstica, referiu que a época natalícia é favorável à reflexão das pessoas sobre o humano que existe dentro delas e que é preciso limitar o improviso e o impulso, motivos de muitos problemas e fracassos nos tempos que correm.

No longo diálogo que manteve com os jornalistas, Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Agência Ecclesia), o padre João Torres não só deu a conhecer as várias dimensões do atual ex-libris de Priscos, como também apontou caminhos para melhorar significativamente a vivência nos estabelecimentos prisionais portugueses e, principalmente, como reabilitar pessoas com humanismo e dignidade, que por qualquer circunstância foram condenadas a prisão.

Neste contexto, atrevo-me a realçar o seu exemplo e a sua perspetiva sobre uma problemática que merece muito mais atenção.


Autor: J. M. Gonçalves de Oliveira
DM

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20 dezembro 2022