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Ouvir música do Natal faz mal ao cérebro e à saúde mental?

1.No passado dia 20 de Outubro, ao dar uma rápida vista de olhos sobre os títulos do jornal digital “Notícias ao minuto”, reparei numa notícia que dizia: “É oficial. Está provado que ouvir música de Natal faz mal ao cérebro e à saúde mental”. Achei esquisito este título e resolvi ler o texto. Dizia assim: “De acordo com a psicóloga Linda Blair, em declarações ao canal televisivo Sky News, visitar diariamente lojas ou espaços comerciais onde se toca contínua e ininterruptamente canções natalícias, pode prejudicar a saúde mental. Esse efeito é ainda mais exacerbado entre os indivíduos que trabalham nesses espaços. Tal ocorre porque, depois de algum tempo, os indivíduos estão a tentar não ouvir aquilo que de facto estão a escutar, o que pode exacerbar outros problemas ou condições psicológicas, nomeadamente stress ou ansiedade. Os indivíduos que trabalham em lojas durante o período natalício têm que desligar o cérebro de modo a conseguirem realizar qualquer outra tarefa. Basicamente, estão a focar e a gastar toda a sua energia tentando não ouvir o que estão a ouvir…”. E, mais adiante, explica porque é que as músicas de Natal fazem mal ao cérebro: “há músicas que, por efeito de exposição, até se acaba por gostar delas à força de as ouvir, mas com as músicas do Natal esse efeito é oposto. É que não conseguimos ouvir essas canções sem as associarmos a festividades que são, só por si, stressantes e que acarretam consigo problemas financeiros, tensões laborais, relações familiares tensas e solidão”. 2. Está explicada a afirmação de que a música de Natal faz mal ao cérebro. Não discuto se é de má fé; mas é, no mínimo, ridícula. Vejamos. Há aqui dois problemas distintos, enredados um no outro: o primeiro, de ordem pessoal e psicológica, é que as músicas de Natal lhe reavivam traumas pessoais, pelo que não gosta de as ouvir; o segundo, conforme alega, é a queixa de stress auditivo provocado pelo elevado ruído de fundo dessas músicas que passam nas lojas nessa quadra do ano. 2.1. Quanto às músicas de Natal, prefere não as ouvir para evitar reviver sentimentos de mal-estar pessoal evocado por elas. Compreendo. Cada um tem suas histórias de vida. E temos que as respeitar. Mas, temos que admitir que a estratégia de defesa para se proteger é demasiado infantil: em vez de pretender generalizar aos outros os seus traumas pessoais e diabolizar as músicas de Natal, dizendo que provocam mal-estar e com isso tentar conseguir que as não toquem nessa quadra do ano, devia era procurar uma solução clínica para os seus problemas… 2.2. Quanto ao stress auditivo provocado pelo excesso de ruído de fundo dessas músicas de Natal que passam nas lojas ou grandes superfícies comerciais nessa quadra do ano, isto pode configurar uma queixa de saúde no trabalho, que deve ser fiscalizada para que se não torne lesiva da saúde de quem lá trabalha. Todos já presenciamos situações dessas. Infelizmente, cometem-se muitos abusos de poluição sonora, com prejuízo para a saúde e bem-estar das pessoas, que não se podem defender para não pôrem em causa o seu emprego. Estima-se que, na União Europeia, morram anualmente 50.000 pessoas devido a ataques cardíacos causados pelo excesso de ruído, pelo stress auditivo, que é dos mais agressivos. Um documento publicado pela Federação Europeia para os Transportes e Ambiente, indica que cerca de 200.000 habitantes passam, todos os anos, a sofrer de doença do coração por causa do excesso de ruído. Ora, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o limite de ruído ambiental a partir do qual começa a haver efeitos negativos para os humanos é de 55 decibéis, valor que se situa entre o provocado por um aguaceiro (50 decibéis) e uma conversa entre duas pessoas (60 decibéis). Será que estas normas são respeitadas em todas as lojas? 3. Para além da fiscalização, também os consumidores podem ajudar a influenciar o respeito por essas normas, queixando-se do ruído ou deixando de ir a essas lojas. É o que eu já faço: deixo de lá ir. Aliás, tudo isto se traduz numa questão de bom senso de quem dirige o estabelecimento comercial: não é por berrar mais alto que vão atrair mais clientes… Isso foi tempo… Hoje, cansados da poluição sonora que há, as pessoas já são mais sensíveis a esses problemas. Já não se pode agir como faziam os feirantes das barracas a céu aberto, onde cada um gritava mais alto do que o outro para ver se apanhava mais clientes. Para além de uma questão de bom senso, é também uma questão de cultura e de bom gosto: a música, a partir de certa intensidade, transforma-se em barulho agressivo. E as pessoas só procuram aquilo de que gostam. (Nota: o autor não escreve de acordo com o chamado Acordo Ortográfico)
Autor: m. ribeiro fernandes
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18 novembro 2018