Queixam-se meus colegas sacerdotes, sobretudo párocos, que, apesar do regresso à possibilidade de os crentes frequentarem os actos religiosos, nomeadamente a Missa Dominical, nota-se uma baixa presencial assinalável. Ao que parece, o motivo fundamental é o descuido e a falta de sentido de responsabilidade dos cristãos, que, habituados, durante quase um ano, a estar em casa sem a obrigação de frequentar presencialmente os actos de culto, continuam nessa situação burguesa e preguiçosa, sem tomarem a iniciativa de regressar ao templo de acordo com as indicações que as autoridades religiosas determinaram.
Não deixa de ser lamentável tal procedimento e é preciso que a consciência de cada fiel bem esclarecida o faça regressar à prática religiosa, conforme o que está determinado. Nomeadamente, se se trata dum pai de família cristã que, com o seu exemplo nefasto, está a habituar os seus descendentes a considerar que agora tudo é facultativo.
Talvez, da parte de alguns, não seja apenas a preguiça descarada que governa a sua conduta, mas alguma falta de informação objectiva, por esquecimento, por inconsciência ou por outras razões, que, quase de certeza, não são de todo objectivas. O desleixo ou o encarar uma questão questão “mais ou menos” não é um comportamento cristão, mas fruto, habitualmente, do comodismo e de uma vontade de não estar bem atenta ao que é determinado por quem de direito, a fim de .não transtornar a pacatez da sua vida.
Creio que em algumas comunidades cristãs e famílias – nas suas casas – já se começou a rezar pelo regresso em massa dos fiéis à prática religiosa, a fim de que tomem consciência, com boa vontade, do modo como devem entender a indicação já referida dos responsáveis da Igreja, que, neste caso, não se adiantaram ao que a autoridade pública determinou, mas respeitaram com todo o cuidado as suas indicações nestes tempos complexos de pandemia. E, além disso, indicaram com rigor como os fiéis, nos actos públicos de culto, se deviam situar e acomodar, a fim de que a saúde pública não fosse afectada.
Quando um irmão erra, a prática cristã leva-nos a procurar corrigi-lo. Não de um modo bruto ou ofensivo, mas com a calma e a afabilidade que a caridade obriga. No entanto, é preciso dizer com objectividade e rigor o que está mal, de modo a que quem é advertido tome consciência nítida da sua falta.
Neste sentido, as advertências aqui referidas não se dirigem, obviamente, a quem por motivos de idade ou de saúde tem dificuldades e fortes inconveniências em frequentar a Igreja. Mas apenas àqueles cristãos que, por tibieza, se deixam ficar em casa placidamente, pensando, como alguém que dizia: “Se há Missa na televisão, para que é que eu tenho de ir à Igreja?”. Ao que um dos filhos observou: “Ó pai, mas se há futebol na televisão, para que é que ias ao estádio quando não havia pandemia?”
Junto-me, com todo o coração, àqueles cristãos que estão a pedir para que quem pode ir aos actos de culto não fique em casa. Creio que é a oração o meio mais eficaz para que as suas almas se arrependam e não sigam a lei da indiferença. Jesus Cristo deu-nos o exemplo do seu amor por nós, não ficando “comodamente” (entenda-se bem o sentido desta observação) na sua morada celestial, mas encarnando e oferecendo a sua vida na Cruz como resgate dos nossos pecados. Com este procedimento, conquistou-nos de novo a possibilidade de entrarmos no Reino dos Céus, encerrados desde o pecado original até então. Para tanta benevolência e doação, ficar em casa é muito triste e ingrato.
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva