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Os vizinhos de lá

Os nossos vizinhos moram no espaço sideral, lá longe, escondido em galáxia que se desconhece? O terráqueo gosta de sonhar com esta vizinhança, gasta tempo e cabedais para se aproximar destes anseio sôfrego; recusa a solidão de existência de vida num só planeta. O pensamento é como o aríete, bate forte na porta blindada, mas nem sempre a consegue abrir, principalmente quando esse desejo corre às cavalitas do imaginário. Se me perguntarem se acredito na existência de vida noutros planetas, fico-me, porque não tenho as certezas do sim, ou as reservas do não, porque o universo é imenso e perde-se para lá das nossas dimensões, pelo menos para a ciência atual; mas, numa hipótese de longínqua probabilidade, a interrogação subsiste: porque não? Sou do tempo em que nas feiras semanais se vendiam folhetos, de impressão medíocre, sobre mulheres de pescoço de girafa que habitavam na Lua; sou do tempo em que se publicavam relatos de visões de homens pequenos, azuis, que viviam em Marte. E toda a minha imaginação de criança bailava nessas existências porque me pareciam tão reais que o assombro infantil suportava. Mas hoje verifico que há quem acredita ou repudia categoricamente, na existência homo, em exo-planetas; afirmam terem visto objetos voadores que não identificam como sendo um balão, avião ou foguetão. Há quem diga que existe no fundo das águas do mar uma civilização qualquer, tecnologicamente avançada. Outros afirmam que as grandes construções, como as pirâmides do Egito, foram feitas por intervenções científicas de espécies vindas doutras estrelas. E a imaginação cria a sua verdade e faz dos homens, os mais predispostos em crer, discípulos e arautos dos vizinhos de lá. Gostaria pessoalmente de encontrar esses vizinhos siderais? Não sei: balanço entre a curiosidade e a perigosidade. E se formos uma civilização inferior e, dessa forma, nos tornarmos em escravos onde, presentemente, somos senhores. Senhor no sentido de ter consciência de si. Pessoalmente receio que fosse metido numa redoma como curiosidade antropológica. Ou talvez, em sentido oposto, encontrasse esses vizinhos do espaço num estado tão primário que tivesse de acelerar a sua evolução para desfrutarem desta civilização que hoje temos. A possibilidade de haver vida microbiana não me espanta, ou mesmo outros seres mais desenvolvidos, não me repugna pensar. Quando hoje aparecerem espécies animais ou bacteriológicas ainda desconhecidas na Terra, porque não aparecerem nesses milhões de milhares de planetas que pululam no universo? Estes hipotéticos vizinhos seriam um sobressalto, mas igualmente seriam um desafio. Matavam a minha imaginação, é certo, mas davam um salto por cima do abismo do desconhecido. A nossa atmosfera permite-nos ser como somos e, para emigrarmos para outro planeta seria preciso que lá houvesse outra atmosfera igual à nossa. Dantes “demos novos mundos ao mundo”; talvez a exploração sideral nos dê novos planetas a este planeta. Sou pela descoberta porque a manta que cobre a minha ânsia de saber se temos vizinhos no desconhecido universo, é muito curta para cobrir os passos gigantes que a minha curiosidade transformou em pés alados.


Autor: Paulo Fafe
DM

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8 novembro 2021