Isto leva-nos à discussão já velhinha se não deveria haver uma experiência prévia com a profissão que deseja vir a cursar antes de escolher o curso superior. Eu sei que a influência familiar tem um peso enorme nestas opções e só são contrariadas pelas médias dos candidatos que nem sempre ficam na primeira opção. Outras vezes são desejos formatados pelos cinemas ou séries televisivas aeroespaciais, investigação criminal e quejandos. Ouve-se dizer que fulano tem muito talento para certas coisas.
Dizia-me um pai: “o meu filho muito gosta de computador; vai tirar engenharia de computação.” Este pai enganou-se porque a paixão do filho por computadores não passava de vulgar utilizador de jogos de computador. O que o filho gostava mesmo era de artes plásticas. Perdeu-se um talento de programação? Mas o que é o talento? Segundo a minha opinião talento significa estar acima do desempenho vulgar.
Se o ferreiro faz obra-prima do ferro que forja, se o carpinteiro faz um adorno na porta que ninguém consegue, se o pintor maravilha com os seus quadros, se o escultor põe na pedra ou no mármore a alma da sua escultura, se o professor é capaz de ser incentivador, então dizemos que estes têm talento. Estão para além da vulgaridade. Somos iguais em direitos e deveres, não haja dúvidas, mas na realidade seremos sempre diferentes pelos talentos.
A igualdade é o anseio dos medíocres que, em ideologia, deu origem à luta de classes. Nunca seremos iguais porque os talentos tal não permitem. Serão os talentosos mais inteligentes? Não, o que há é várias espécies de inteligência, como se sabe e estuda em psicologia. Se o ferreiro não distingue Tomás Moro de Tomás Hobbes, também o professor não sabe distinguir as qualidades de têmpera do aço de damasco, ou qual o aço que tem mais carbono.
Os dois, no entanto, merecem-me o mesmo respeito e a mesma consideração, porque iguais em dignidade humana. Aqui igualam-se, mas acolá, a sociedade distingue-os. Tem isto a ver com as escolhas dos cursos superiores porque tivemos muitas ocasiões de verificar que as escolhas dos cursos universitários eram ditadas pelos familiares, contrariando as inclinações dos filhos; quem sabe quantos “talentos” se perderam assim! Normalmente mais as mães que os pais na origem destes desencontros.
Por isso é que há tantos médicos que gostariam de ser pintores e tantos engenheiros que desejariam ser professores. Se o talento fosse asa pousaria apenas no galho de sua escolha. Quem dera que os caloiros de ora tivessem tido a liberdade de asa para terem poisado no galho da sua escolha.
Autor: Paulo Fafe