É com muito cuidado e reservas que escrevo esta carta aberta, primeira e última, sobre o futuro do ABC de Braga e o estado a que chegou.
Sei que poderei gerar alguma discórdia, mas o que pretendo é o que todos pretendem, o ABC no seu lugar, o ABC grande, o ABC vivo!
Faço-o só agora, não motivado por qualquer pretensão de ser presidente, nem por ter soluções milagrosas, mas sim porque o momento é deveras preocupante e, se não for feito agora, poderá depois ser demasiado tarde.
Não farei qualquer juízo de valor sobre a competência e dedicação de todos aqueles que têm assumido a tão nobre responsabilidade, e honra, de gerir o destino do ABC, porque sei, também, que muitos administradores prescindiram do seu tempo, pessoal e profissional, em prol do ABC, prejudicando e muito a vida familiar.
Mas o ABC de Braga que todos conhecemos pela história inigualável, pelo mítico pavilhão Flávio Sá Leite, pela força e raça, pelos 86 títulos, pelo amarelo inconfundível, está infelizmente num estado penoso, correndo sérios riscos de descer de divisão, e consequentemente, acabar.
Não tenho dúvidas que os responsáveis são todos os academistas, nos quais me incluo, mas que ou não souberam, ou não conseguiram, manter a chama acesa e, por isto, escrevo para todos, para aqueles que diretamente geriram o clube e para aqueles que são simples adeptos.
É urgente marcar uma assembleia de sócios e simpatizantes do clube, onde se debata com transparência o seu futuro. É urgente ser apresentado um projeto de viabilidade financeira e desportiva. Podem não ter consciência, mas não há eleições no ABC há mais de 15 anos e nem esta situação ímpar pode permitir que os sócios não sejam ouvidos e só sirvam para pagar quotas e poucos mais. Este ponto é o mais importante, porque só com o apoio e as ideias dos sócios e simpatizantes se encontrarão soluções.
Todos ouvimos, pelo menos na última década, da parte daqueles que são nomeados para presidentes da SAD do ABC, assumir o mesmo discurso de que tem muitas dívidas e por isso não é possível fazer mais.
Posso compreender que, num raciocínio mais simplista, se chegue a essa conclusão, mas também não tenho dúvidas que é nestas situações que precisamos ter capacidade para mobilizar e encontrar soluções efetivas que, de uma vez por todas, se encontrem saídas, e não é com simples atos de gestão financeira, muitas vezes confundidos com projetos financeiros, que o ABC vai ter futuro. São demasiados anos seguidos de desvalorização da marca ABC.
Aqui começa a minha discórdia e faço o reforço do apelo a esta administração – já que as anteriores não foram capazes de o fazer – que apresente os seguintes pontos aos sócios:
– Deveesta administração, assim como as anteriores deveriam ter feito, apresentarem-se com caráter de urgência aos sócios, uma vez que não houve eleições e esta é nomeada sem a sua aprovação. Isto é um primeiro passo muito, muito importante;
– Apresentarseu projeto financeiro, isto é, apresente como e quando pretende resolver os problemas financeiros da SAD;
– Que projeto desportivo tem para o clube, para o futuro que se lhe apresenta pela frente?
– Que informe os sócios de quando e como pretende devolver os direitos desportivos ao clube e marcar eleições?
– Pôr à consideração dos sócios o projeto para a remodelação tão necessária do Pavilhão Flávio Sá Leite, para este poder ser discutido e aprovado.
Mais uma vez apelo a esta administração, liderada pelo meu amigo e academista Carlos Matos, para que consiga mobilizar com caráter de urgência o máximo de sócios e simpatizantes e que percebam que, apesar de não haver eleições, o clube é unicamente dos sócios.
Não tenho dúvidas do momento grave que o ABC atravessa e, como muitas vezes Alekssander Donner disse, “é no balneário que se resolvem os problemas da equipa”, e se esta ideia tanta glória trouxe ao ABC, podemos e devemos usar a mesma estratégia, “vamos reunir o balneário para agora resolver os problemas do clube”.
É A É B É ABC.
Autor: Paulo Faria
Os sócios são o futuro do ABC

DM
18 novembro 2021