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Os senhores da guerra

Ao longo dos últimos tempos, muito se tem falado sobre o lado obscuro do futebol. As rivalidades, sempre existiram e ainda bem. No entanto, o palco das disputas tem-se desviado dos estádios, para ser disputado em computadores, nos telemóveis, em programas televisivos, na comunicação social e nos tribunais. Acusações, farpas, polémicas, violência, investigações, esquemas, corrupção, espionagem informática, fazem parte do léxico do futebol. Tenho muita saudade do tempo em que o que interessava eram as bolas a entrar na baliza, o povo entusiasmado e a luta feroz era pela posse da bola. Tenho saudade do tempo em que os protagonistas eram os mesmos dos cromos que enchiam as cadernetas e se esfalfavam no campo, esses mesmos, chamados de jogadores da bola. Hoje, os protagonistas e os “donos da bola” são os dirigentes que se fartam de ultrapassar os limites do bom senso, que não conseguem dirigir sem influenciar ou ameaçar, disputar sem agredir, lutar sem desrespeitar. Tenho saudade que a única defesa era uma linha de jogadores à frente do guarda-redes e não de uma equipa de advogados que defende, a todo o custo, as direções dos clubes. Todos sabemos que não é fácil dirigir os clubes. Não é fácil estar pronto para melhorar processos de organização dos clubes, enfrentar a pressão dos Media ou dos adeptos, perante as derrotas, estar pronto para assumir responsabilidades, comunicar com a diversidade de sócios e adeptos. Parece contraditório, mas, ao contrário do que muitos pensam, a eficácia de um bom dirigente, passa por ter uma correta gestão dos conflitos, que naturalmente deflagram das relações humanas, eventualmente, será mais eficaz do que defender a proliferação de um clima amorfo e fedorento, que não é mais do que um sinal de paz podre. E isto, não significa que se deve estar de costas voltadas e em constante guerrilha, de palavras e atos. Elevar esforços e lutar pelos interesses comuns, podem elevar o nível de desempenho desportivo dos clubes e do próprio País. Um dirigente desportivo tem um enorme e alargado campo de ação, algumas vezes cheios de ratoeiras, minas e inimigos, mas a sua responsabilidade é estar ao serviço dos outros, sem se deixar cair na tentação de se servir, atalhar caminho e calcar tudo e todos. A pressão de obter resultados, depressa e bem, nem sempre ajudam a que os dirigentes tomem as decisões mais corretas, contudo, uma situação é um erro de gestão, um momento infeliz, outra, é a constante forma de maniatar resultados, provocar desacatos, utilizar linguagem provocadora, incitar à desordem e à suspeição. As figuras passam, mas as instituições perduram. Ser dirigente pressupõe um conhecimento profundo da modalidade, do meio, dos contextos, de organização, de finanças, de gestão de grupos, de rentabilização de recursos. Não é nada fácil. A identidade, o orgulho, o compromisso, o espírito de missão, a emoção, a decisão, a determinação, a paixão e a entrega têm que estar bem patentes em qualquer ação, em qualquer passo, em qualquer salto e em cada minuto do dia-a-dia de um bom desportista e, também, de um bom dirigente.
Autor: Carlos Dias
DM

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23 novembro 2018