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Há quem pense que, nos últimos tempos, tem havido mais empenho em «fazer santos» do que em cada um «fazer-se santo». O diagnóstico é de Raniero Cantalamessa, que realça a maior tendência para dar a conhecer os santos do que para imitar os santos.
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O problema não está, obviamente, em «fazer santos». Está nas resistências de cada um a «fazer-se santo». A santidade é, sem dúvida, excepcional, mas está ao alcance de todos. Devia, por isso, fazer parte da normalidade da vida cristã.
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Diria que os santos são como as flores. Tal como nem todas as flores de um jardim vão para os altares, também nem todos os santos da Igreja figuram nas igrejas. Mas o principal é que floresçam na Igreja.
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A santidade de cada um faz reluzir a santidade de Deus e da santidade da Igreja. Deus é santo (cf. Lev 19, 2) e, em Deus, a Igreja também é santa (cf. Ef 5, 27).
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O santo é aquele que acolhe a santidade de Deus, incorporando-se na santidade da Igreja. A prioridade do santo é, pois, fazer avultar a santidade de Deus e da Igreja.
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Daí que não falte quem procure mais ajudar a que «se façam santos» do que em divulgar o santidade dos (já) conseguiram ser santos. Consta que um dos lemas da Cartuxaé «non sanctos patefacere sed multos sanctos facere». Isto é: «Não mostrar os santos, mas fazer santos».
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É evidente que não é mal nenhum mostrar os santos. Mas é muito melhor (ajudar a) fazer santos. Compreende-se, assim, que, quando morre um membro da Cartuxa com uma vida santa, haja apenas um comentário: «Laudabiliter vixit». Ou seja, «viveu de uma forma muito louvável».
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No túmulo da Cartuxa, o único epitáfio é a Cruz. Enfim, tudo e todos se apagam para que só Deus brilhe.
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Habitualmente, gostamos de dizer que os santos são humanos como nós.É verdade. Mas é igualmente importante que nós procuremos ser santos como os santos.
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Acresce que a santidade não faz bem apenas ao santo. Como notou Teresa de Calcutá, «a santidade é uma necessidade» — não um luxo — para o mundo. Um dia, havemos de concordar com Gounod quando afirmou que «uma gota de santidade vale mais do que um oceano de génio»!
Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira