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Os sanguessugas do futebol

O futebol não pode continuar a ser tratado como um mundo à parte, em particular no campo da ética, em que, pelos vistos, os princípios não precisam ser respeitados.

Sempre considerei que o futebol, para além de ser um negócio, ou mesmo uma “indústria”, é sobretudo paixão e emoção, e deve, nessa base, ser o catalisador de mudanças através dos exemplos que pode canalizar. Reconheço, na mesma medida, e como todos sabemos, que onde há competição há rivalidade. Mas é importante que a competição seja saudável entre os principais protagonistas (os jogadores) e que tal se estenda aos adeptos e demais protagonistas.

No entanto, face à falta de qualidade intrínseca (profissionalismo, integridade, princípios, honestidade) de muitos dirigentes de clubes e de outras Instituições, o resultado foi a criação de uma teia de sanguessugas que transformaram o futebol numa selva. A todos os níveis descontrolada.

Trago mais dois exemplos, para além de todos aqueles sobre os quais já nos debruçámos, nesta coluna de opinião.

1. O presidente do clube ucraniano Shakhtar Donetsk veio a público denunciar a postura de alguns empresários de futebol, mas também de clubes, que estão a tentar ganhar dinheiro com a guerra da Ucrânia, usando os chamados “jogos de bastidores”, valendo tudo. Ora dizem aos jogadores que os contratos serão anulados por causa da guerra, e que serão negociados a custo zero, ora tentando influenciá-los para não jogarem, porque os contratos vão ficar sem efeito. Sobre isto só tenho a dizer: que gente deplorável!;

  1. Os Clubes aprovaram, recentemente, em Assembleia Geral da Liga, o Regulamento Disciplinar para 2022/2023, tendo incluído sub-repticiamente a alteração a um artigo que passa a dar a oportunidade desses mesmos clubes recusarem ceder os seus jogadores às seleções (AA ou jovens), sem que sofram, por isso, qualquer consequência. O que se verifica atualmente, e que está consagrado no protocolo entre a Federação e a Liga Portugal, é a penalização de suspensão entre um e dois meses do jogador que for convocado e não comparecer. De referir que qualquer jogador pode auto excluir-se e afastar-se de forma definitiva das seleções nacionais.

No meio de tudo isto, seria interessante saber qual foi o clube, ou clubes, que propuseram e fizeram aprovar tal situação, bem como a razão pela qual se sujeitou o Presidente da Liga e vice-presidente da Federação (por inerência) a prestarem-se a este papel.

Dado que tal Regulamento teria de ser ratificado em Assembleia da Federação, é óbvio que tal não se verificou.

Afinal, para esta gente, o interesse nacional está muito aquém dos interesses pessoais, como nós muito bem sabemos. Estão no futebol para sorver todo o ganho pessoal que dele puderem retirar.


Autor: João Gomes
DM

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7 julho 2022