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Os problemas do envelhecimento (III)

Há um considerável número de publicações que se destinam a categorias etárias muito específicas, em que se ensina a passar “a barreira dos quarenta”, a “ser feliz depois dos 50 anos” ou “a viver a reforma com qualidade”. Face ao envelhecimento, sem precedentes, da população mundial, o mercado dos seniores é um novo alvo, ou seja, uma fonte de desafios económicos e políticos, que muitos responsáveis pelas comunidades sabem aproveitar habilidosamente.

Ao nível social, as etapas da existência são, muitas vezes, marcadas por ritmos exteriores ao desenvolvimento dos indivíduos, como é o caso da noção de limiares etários. Cada sociedade define um percurso das idades da vida, distinguindo etapas específicas que permitem a passagem de um estado a outro, como a passagem à maioridade ou à reforma. A maioridade permite a passagem de um estatuto a outro.

O adulto, do ponto de vista da lei, torna-se, então, responsável pelos seus atos e pelas suas palavras, devendo ser capaz de honrar os compromissos assumidos, como contratos de trabalho, atos civis, parentalidade e muitos outros. Do mesmo modo, o facto de, em vários países e durante certo tempo atrás, as pessoas se reformarem a partir dos 65 anos, fez resvalá-las para a categoria dos idosos. Assim, a definição das idades da vida depende da forma como uma sociedade cria os seus conceitos de idade, distribuindo os papéis pelas diferentes categorias etárias.

No seio destes grupos etários coabitam diversas gerações, tendo surgido diferentes terminologias para a sua designação. A partir do final dos anos 70, o aparecimento dos clubes de idosos deu origem à expressão “terceira idade”, destinada a pessoas válidas, praticando uma atividade, nomeadamente recreativa. Depois, nos anos 80, tendo em conta o prolongamento da duração de vida, a “quarta idade” fez a sua aparição, referindo-se às pessoas mais idosas com perda da sua autonomia. No ano 2009, surgiu, em França, uma sondagem sobre os termos utilizados e desejados para designar os indivíduos com mais de 50 anos.

As respostas divergem consoante a idade dos inquiridos interessados. Assim, os indivíduos quinquagenários preferem o termo “seniores”, enquanto os sexagenários se dividem entre “seniores” e “reformados”. Já os septuagenários escolhem, em primeiro lugar, a palavra “reformados” e só depois, o étimo “idosos”. Finalmente, os de mais de 80 anos colocam o termo “idosos” bem à frente de todos os outros. Deste modo, o termo “seniores” (em oposição a juniores) é muito utilizado nos meios de comunicação social, remetendo para o reformado dinâmico e de boa saúde, que se ocupa dos netos, pratica atividades associativas e desportivas ou se envolve na sociedade.

Quanto ao termo “reformado”, é muito pouco utilizado pelos quinquagenários, enquanto o termo “idosos” não engloba os de menos de 70. Já na vida corrente do povo francês, o termo “seniores” é pouco utilizado (16%), bem como os termos “mais velhos” (9%) e “veteranos” (3%). O público francês utiliza, pois, mais as denominações “idosos” (67%) e “reformados” (55%), secundarizando os termos “velhos” e “antigos”. Qualquer que seja a terminologia utilizada, cada uma delas implica uma diferente representação da pessoa, veiculando o seu lote de estereótipos positivos ou negativos.

O termo “antigos” faz referência às experiências, aos saberes acumulados, à sabedoria, enquanto o termo “velhos” possui uma conotação mais negativa. A noção de idade e de grupo etário é uma construção social, subjetiva, variando com as culturas dos povos.


Autor: Artur Gonçalves Fernandes
DM

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26 janeiro 2017