Todos gostamos de presentes, adultos e crianças. Mas, as crianças nem se fala. E não se precisa de formular o desejo de alguma coisa em especial. Receber um presente é sempre bom. Qualquer presente. Isso não significa que, por vezes, não ansiemos algo em particular. Mas, aguardar um presente específico é mais frequente nos adultos, que são quem têm que criar as melhores condições para si e para os seus. Precisam de um emprego que lhes assegure o sustento e que seja compatível com o horário de frequência dos seus filhos na escola. Que a escola os ajude a educar e preparar os filhos para o mundo. Precisam de uma habitação condigna. De meios de transporte adequado. Que os rendimentos sejam suficientes para viverem condignamente e darem um futuro risonho e feliz aos seus rebentos. E muitas outras prendas.
Se alguns destes desejos dependem de cada um, é ao Estado que cumpre desenhar o contexto e organizar a vida em sociedade. Se o transporte público não chega às aldeias mais distantes ou ao interior, com a frequência desejável, tal se constitui numa dificuldade para as famílias. Se o contexto empresarial é desfavorável, as empresas e os empregos não existem e/ou os salários não permitem que os trabalhadores e os seus entes queridos ascendam socialmente. Se o Governo não cuida da colocação de professores atempadamente e na quantidade necessária e se há turmas sem educadores a algumas disciplinas, então a formação dos alunos vai ser irremediavelmente prejudicada em vários sentidos. Se o Sistema Nacional de Saúde não responde atempadamente às necessidades dos cidadãos em coisas básicas, como uma consulta médica, ou a um exame ou uma intervenção cirúrgica, não cumpre com a Constituição, a lei fundamental do país que obriga qualquer que seja o Executivo em exercício.
É verdade que ao longo dos anos se tem vindo a alterar o panorama nacional quanto a dotar o país de condições para que os cidadãos vivam melhor, mas não se tem evoluído na medida das promessas eleitorais e em alguns aspectos chega mesmo a existir uma regressão. Destacaria a educação e saúde, como exemplos. Melhor, como maus exemplos. Não me recordo de haver, como nestes últimos tempos de governação socialista, tanta insatisfação dos professores, tantos alunos sem professor numa ou mais disciplinas curriculares. E na área da saúde, o número de cidadãos sem médico de família aumentou – são hoje cerca de milhão e meio, numa população de dez milhões – e não foi por que a população tenha aumentado. Terá sido por problemas insanáveis, como a falta de médicos? Não me parece. Creio que há soluções que não foram abordadas, não sei bem porquê. Incompetência, falta de vontade política? Talvez um pouco de ambas. Creio que as barreiras ideológicas não se justificam quando está em causa um direito inalienável dos cidadãos.
Os portugueses precisam de bons presentes do Estado. Vários dos que lhes foram prometidos teimam em não chegar, como os que se relacionam com as áreas referidas. Satisfazer-lhes os desejos é responsabilidade primeira do Governo. E o que está em funções não está a cumprir - dá sinais de estar exaurido e sem rasgo para satisfazer a vontade dos eleitores –, apesar dos cidadãos lhe terem dado um voto de confiança há cerca de um ano. Infelizmente, uma boa parte da oposição também não tem cumprido convenientemente o seu dever. Excluindo os partidos da nova direita, não se vê acção política na oposição. O Partido Social Democrata apresenta sintomas de abulia e quando se mexe anda, quase sempre, a reboque de desafio de terceiros. Isto, quando são muitos os presentes de que os portugueses estão à espera e nem todos foram colocados no sapatinho junto a São Bento.
Autor: Luís Martins