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Os planos ajudam, muito!

Decorreu recentemente, em Leiria, o 23.º Congresso Nacional de Gestão do Desporto, organizado pela sua Associação Nacional (wwww.apogesd.pt), tendo como tema central a “Lei de Bases e a Gestão do Desporto – 15 anos depois”.

O objetivo geral era olhar para esta lei e avaliar qual o seu impacto no desenvolvimento desportivo. Desde logo uma conclusão e consenso geral parece ter saído dos “trabalhos”: é absolutamente necessário um Plano Estratégico para o Desenvolvimento Desportivo português, aproveitando a legislação existente, mas alinhada e complementada com os objetivos e metas a alcançar. E temos desde já um bom ponto de partida, uma meta anunciada pela anterior legislatura, tratando-se de “colocar Portugal entre as 15 nações da União Europeia (UE) mais ativas na prática desportiva até 2030”... mas o tempo esta a ficar curto.

Foram entretanto, recentemente divulgados os resultados do Eurobarómetro relativamente aos níveis de atividade física e desporto dos portugueses, e a situação é muito grave e preocupante. Este relatório indica que 73% dos portugueses afirmam nunca se exercitar ou praticar desporto, com mais 5% a fazê-lo apenas "raramente", mais do que os que o fazem "regularmente", 4%, e "com alguma regularidade" 18% dos portugueses inquiridos. Portugal tem desta forma a mais alta taxa de inatividade física dos países europeus abrangidos pelo estudo, seguido pela Grécia (68%) e pela Polónia (65%).

Particularmente, fica-me a sensação, assim como a algumas pessoas que estudam o fenómeno desportivo e da atividade física em Portugal, que parece existir algo nestes dados que não bate certo, pela perceção do que observamos diariamente em diversas instalações desportivas, ginásios ou mesmo pela quantidade de pessoas que correm ou fazem atividade física de forma auto-organizada “na rua”. Por outro lado, temos o aumento do número de instalações nas últimas décadas e sempre sobrelotadas em horário nobre, o aumento no nível académico da população que pressupõe um estilo de vida mais ativo, mais mulheres a correr e fazer desporto, assim como o aumento do número do número de atletas no desporto federado.

O questionário que dá os dados para Portugal é realizado a 1000 pessoas e seguramente com rigor na aplicação das regras estatísticas, no entanto, pessoalmente não descarto a hipótese de uma falha de procedimento metodológico, ou mesmo o entendimento diferente sobre as perguntas em cada país, que alguns estudos parecem indicar, em que as pessoas só entendem prática de exercício se estiverem inscritos em algum clube ou ginásio.

Só esta perceção subjetiva pode, desde logo, enviesar qualquer resposta. De qualquer forma, sabemos que a margem de progressão em Portugal no que toca a esta matéria é imensa, a bem de todos e. pelo que se pressupõe ter uma população mais ativa e com melhores índices de saúde.

Um bom exemplo foi apresentado neste congresso por uma responsável pelo “Plan Integral para la Actividad Física y el Deporte” (Plan A+D) da vizinha Espanha. O Plan A+D foi lançado em 2011, quando este país estava na cauda da Europa, continha 7 eixos estratégicos, 15 programas, 41 objetivos e 100 medidas, ajudou a que este país, em pouco mais de 10 anos, passou a estar perto da média de inatividade física dos paises da União Europeia. Um período de crise económica e a mudança de responsáveis políticos interrompeu este plano, mas teve o seu impacto enquanto durou a sua implementação. Entretando alguns setores pensam já em retomar o Plano A+D em Espanha.

Um bom plano parece ajudar!
Autor: Fernando Parente
DM

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16 dezembro 2022