Vou arremessar esta bola, a da identidade cristã, para o campo da efervescente dialética, a fim de ser, aí, bem batida pelas chuteiras dos seus dialogantes, sob o comando, organização e disciplina do árbitro, alheia aos favoritismos mentais, económicos e prestigiosos. Toda esta luta dialética reclama pela sua devida solidariedade, colaboração e cooperação entre todos, a fim de que a identidade cristã ganhe corpo, maturidade, estima e o verdadeiro sentido cristão.
Onde assenta, radical e naturalmente, a verdadeira identidade cristã, a verdadeira vida e o verdadeiro caminho para a transformação do Mundo, para a glória e vontade do Pai, a fim de que todos tenham vida e vida em abundância?
Uma, entre muitas das heresias do catolicismo atual, afirma que, para tal, basta transformar o Cristianismo numa doutrina teórica, cuja tónica está no pensamento passivo e no favorecimento das estruturas da desigualdade, em vez de assentar no amor ativo, universal e alheio às discrepâncias.
Paralelamente a esta e outras heresias, acantona-se nessa ninhada, a divinização do Papa. Afirma, categoricamente, esta heresia: “Confessamos que o Papa romano tem o poder para mudar as Escrituras e aumentá-las ou diminuí-las de acordo com a sua vontade. Confessamos que o Santíssimo Papa deve ser honrado por todos com a honra devida a Cristo”. O Papa Bento XVI denunciou esta profissão como “monstruosa”, reconhecendo, depois, que o Magistério nunca interveio para condená-la.
Atribuíram-se ao Papa títulos como “Vice Deus da humanidade”, “o verbo encarnado que se prolonga”… “O Papa é Deus na terra. Jesus coloca o Papa no mesmo nível de Deus”. ”A Igreja romana foi fundada só por Jesus Cristo. Por isso, só o romano pontífice é digno de ser chamado universal”. “Pode dizer-se que o Papa e a Igreja são uma só coisa”…
Sem violar ou menosprezar os outros prestigiantes fatores (Deus, Jesus, Igreja, Papas…), vou colocar na nossa ôntica natureza (transcendental, una, relacional e tecida de espiritualidade corporizada) o verdadeiro, radical, natural e primogénito fundamento da verdadeira fé cristã. Da nossa ôntica natureza, através da sua transcendentalidade, afirmamos, categoricamente, a realidade ôntica do Ser Divino e Transcendente.
Com ela, através da sua unicidade, aniquilamos todas as roturas, desvios e parcialidades, assumidas como autónomas. Com ela, através das relações transcendentais, relacionamo-nos, imperativamente, em amor, verdade, vida, beleza, paz, luz, verdade, sabedoria… com Deus e com toda a criação a fim de que a fé cristã se fortaleça, o mundo se transforme e Deus seja glorificado.
Autor: Benjamim Araújo
Os pedaços negros do atual catolicismo

DM
27 setembro 2017