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Os “mimos” de Francisco

Ou seja, encaixaram perfeitamente na conduta de muitos crentes que devoram missas e a seguir exalam malquerença. Sim, porque quantas vezes eu, “pecador”, confesso nem sempre cumprir as minhas obrigações de cristão nem, porventura, para a humanidade serei exemplo fiel. 

Ora, este Papa tem uma visão da Igreja que nenhum outro, antes, teve. Basta que atentemos no sentido de pobreza e de humildade com que encara o seu magistério pontifical. Por isso escolheu ser Francisco, mas mantendo viva a chama da cultura de Jesuíta, comunidade de onde proveio e da qual colheu a sabedoria que, hoje, o inspira. Pelo que, assim sendo, entendo que as palavras que Sua Santidade (S.S.) proferiu são dignas de uma profunda reflexão, não só para os católicos mas para todos quantos vivem neste mundo dos homens, quando afirmou com toda a frontalidade: – Há aqueles que dizem: “Eu sou católico, vou sempre à missa”. Algumas destas pessoas deviam dizer: “A minha vida não é cristã, pago salários baixos; exploro as pessoas; lavo dinheiro sujo (…)”. Há muitos católicos assim. Se isto é um católico, mais vale ser ateu. 

Embora não tivesse sido esse o tema central da homilia daquele dia, foi ao referir-se à vida dupla dos cristãos que escandalizam os pequeninos, ao dizerem uma coisa e fazerem outra, que S.S. aproveitou para exortar o povo de Deus a seguir pela vida com retidão e comportamento de santidade. Ou seja, para o católico não ter dois comportamentos, um durante as cerimónias religiosas e outro fora do templo. Nada colhendo dos frutos da videira do Senhor prontos a serem saboreados como alimentos fortalecedores da alma e nem os provar. Tal como os que não são católicos e acorrem ao adro da igreja sempre que alguma figura eclesiástica, relevante, por lá aparece. Aliás, viu-se, aquando da visita papal – em 12 e 13 de maio –, no centenário das aparições, o oportunismo instalado a assistir a eventos religiosos que nada lhes dizem. Gente, cuja vida não contém a chama da fé, mas indo lá apenas porque, tal, lhes garante visibilidade e os votos do povo. 

Claro que me quero referir aos políticos da nossa praça, em que uma grande parte é agnóstica e ateia. Ainda que a esses não se lhes possa pedir exemplos de virtudes cristãs, no entanto os “mimos” de Francisco estão imbuídos de alguma analogia sobre os deveres e lealdade para com as convicções de todos quantos integram a comunidade humana. Principalmente, aqueles que têm grandes responsabilidades nos cargos que ocupam e que os deveriam dignificar e respeitar. Como no caso de um governante que jura governar para os mais desfavorecidos – antes da eleição – e depois nada faz, ou ainda lhes piora a vida. Ou, no caso daqueles que prometendo defender a vida – até ao seu último sopro –, depois, se vão juntar aos que promovem a eutanásia e o aborto. 

Mas como se depreende das palavras do Papa, ao político católico deverá corresponder uma exigência acrescida, face ao que o não é. A de ter de ser coerente com a sua crença. Pois de que adianta afirmar-se que o é; que até cita a Bíblia; cumpre alguns preceitos religiosos; assiste às liturgias; lê a epístola; comunga e até lê e toca órgão na Sé e a seguir é acusado de extorquir milhões e de atentar contra a vida humana? Levando a tal espécie de vida farisaica dos que apenas pretendem progredir, socialmente, na mira de alcançarem objetivos materiais. Cuja máscara de católicos serve, unicamente, para passarem por “bons cristãos”. 


Autor: Narciso Mendes
DM

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5 junho 2017