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Os méritos do Papa Emérito

Completaram-se, no passado dia 29 de junho, 70 anos da ordenação presbiteral do Papa Emérito Bento XVI. É sugestivo que o 265º Papa tenha sido ordenado no dia da Solenidade dos Apóstolos Pedro e Paulo! Pura coincidência? Para quem acredita, não há coincidências, mas sinais! Neste contexto, parece-nos oportuno relevar os méritos do Papa Emérito.

Joseph Ratzinger nasceu a 16 de abril de 1927, em Marktl am Inn, uma pequena povoação da Baviera (Alemanha). Bem cedo se manifestaram nele sinais da vocação ao sacerdócio e, por isso, ingressou no seminário. Porém, as perturbações do nacional-socialismo e a Segunda Guerra Mundial não permitiram que aí estivesse muito tempo. Reingressou nele depois da guerra e foi ordenado a 29 de junho de 1951.

No ano seguinte, iniciou a sua atividade de professor na Escola Superior de Filosofia e Teologia de Freising, lecionando teologia dogmática e fundamental. Em 1953, defendeu tese de doutoramento, com o título Povo e Casa de Deus na doutrina da Igreja de Santo Agostinho. Pouco depois, obteve a habilitação para a docência, com a dissertação A teologia da história em São Boaventura.

Lecionou em diversas universidades alemãs (Bonn, Münster, Tübingen e Regensburg [Ratisbona]), recebeu dez doutoramentos honoris causa, em universidades europeias e americanas, e publicou cerca de seis centenas de títulos, entre livros e artigos científicos. O livro Jesus de Nazaré, em três volumes e publicado durante o seu pontificado, é dos mais conhecidos e atingiu o estatuto de best seller.

Participou no Concílio Vaticano II (1962-1965) como peritus (especialista em teologia) do Cardeal de Colónia, Joseph Frings. Com os teólogos Hans Urs von Balthasar e Henri de Lubac, fundou, em 1972, a revista Communio, procurando dar uma resposta positiva à crise teológica e cultural que se seguiu ao Concílio. Domina seis idiomas (alemão, italiano, francês, inglês, latim e castelhano) e lê alguns outros (português, grego antigo e hebraico).

Paulo VI nomeou-o Arcebispo de München e Freising, a 25 de março de 1977, e fê-lo Cardeal, no consistório de 27 de junho desse mesmo ano. Em 1981, João Paulo II nomeou-o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e, por inerência, Presidente da Pontifícia Comissão Bíblica e da Comissão Teológica Internacional, cargos que ocupou durante 23 anos!

Foi eleito Papa a 19 de abril de 2005, com 78 anos de idade, num dos conclaves mais rápidos da história (durou 22 horas e teve apenas quatro votações). Adotou o lema “Colaborador da Verdade” e o nome Bento XVI: Bento, em homenagem ao fundador da Ordem Beneditina e Padroeiro da Europa; XVI, porque já tinha havido 15 papas com esse nome. O último fora Bento XV (1914-1922), conhecido como “Papa da Paz”, por a ter tentado negociar, ainda que sem sucesso, na Primeira Guerra Mundial.

De temperamento mais reservado do que o seu antecessor, o Papa João Paulo II, nem sempre foi bem compreendido. Nos seus escritos, insurgiu-se, de forma veemente, contra o secularismo (abandono dos valores religiosos) e a ditadura do relativismo (tendência para subjetivar a verdade). Realizou vinte e quatro viagens apostólicas (uma delas a Portugal, em maio de 2010) e publicou três importantes encíclicas: Deus Caritas Est (Deus é amor), Spes salvi (Salvos na esperança) e Caritas in Veritate (Caridade na Verdade). Também a encíclica Lumen Fidei (A luz da Fé) foi por ele escrita, mas publicada depois pelo Papa Francisco.

Foi o primeiro Papa a visitar um museu judaico (Roma, 17 de janeiro de 2010) e a abrir uma conta na rede social Twitter (12 de dezembro de 2012). Deu continuidade ao diálogo ecuménico e inter-religioso iniciado pelo antecessor, reunindo-se, em Itália ou nas viagens apostólicas, com os líderes das diferentes confissões religiosas.

Apesar de algo incompreendido dentro e fora da Igreja, Bento XVI fica para a história como o Papa teólogo (é um dos maiores teólogos de todos os tempos), o Papa músico (toca piano e aprecia particularmente J. S. Bach e W. A Mozart) e o Papa que renunciou ao pontificado, a 28 de fevereiro de 2013, num gesto profético que quebrou o costume multissecular de o Sucessor de Pedro permanecer em funções até à morte (apenas tinham renunciado ao papado Celestino V, em 1249, e Gregório XII, em 1515).

De tudo quanto dissemos dele, não é difícil concluir que são muitos os méritos do Papa Emérito.


Autor: P. João Alberto Correia
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5 julho 2021