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Os filhos das trevas… porém…

Como gosto de ver, no Verão, em noites escuras e cálidas, os pirilampos iluminando a escuridão, ainda que em poucos milímetros quadrados! Quanto mais escura é a noite, mais se nota a luminescência deste minúsculo insecto. Dá-me sempre que pensar como, mesmo em noites escuras, há sempre um luzeiro que vence, a seu modo, a negritude da noite. Infelizmente, os pirilampos estão ameaçados pela má gestão da Terra por parte do Homem. As trevas parecem querer vencer. A luz incomoda a escuridão! Deixando, agora, os pirilampos, que nos devem convidar/convocar para apreciar a luz , mesmo quando é ténue. A nossa civilização mergulhou nas trevas, malgrado a poluição luminosa que nos abafa, distrai e nos impede de apreciar a beleza da criação. O Homem mergulhou numa luta feroz, promovendo a “cultura da morte” em nome da liberdade, da autodeterminação, do egoísmo… A Natureza está ameaçada: rios e mares poluídos, terrenos férteis esterilizados, montanhas esventradas, animais e plantas manipulados, perseguidos e destruídos. E o Homem que não passa, hoje, de um mero objecto de que se pode dispor à vontade, interferindo do decorrer natural do seu ciclo vital. E para que tudo corra à feição dos cultores da moda, legisla-se em todos os sentidos facilitando e promovendo todas as medidas que desfiguram a natureza humana e o seu funcionamento intrínseco. Estamos num tempo de calamidade civilizacional! As trevas da morte invadem todos os cantos e recantos da vida humana! …Porém… Porém, nesta escuridão selvática aparecem “pirilampos”, luzeiros pequenos mas que iluminam a seu modo esta escuridão. São uma esperança. Em 1975, o Cardeal John O’Connor, que tinha sido capelão da Marinha de Guerra americana, foi nomeado Arcebispo de Nova Iorque e nessa condição visitou o tenebroso Campo de Concentração de Dachau onde muitos milhares de pessoas tinham sido barbaramente assassinadas pelos nazis durante a II Guerra Mundial. Tocou com as mãos os tijolos da cerdadura e nesse momento sentiu uma experiência espiritual profunda. Não se conteve e laçou este grito: “My God! How can human beings do this to other human beings?” (Ó meu Deus! Como podem seres humanos fazer isto a outros seres humanos?”). Este grito que lhe saía do mais profundo do seu coração teve efeitos. Prometeu, ali e então, fazer algo ao seu alcance para proteger a vida humana! E a promessa concretizou-se. Assim nasceram as «SISTERS OF LIFE», uma congregação religiosa feminina, com muitos jovens que prestam um serviço notável à vida humana, antes, durante e depois do seu nascimento e até à morte natural. Estas religiosas fazem os votos habituais (Pobreza, Castidade e Obediência) e acrescentam um quarto: o SERVIÇO À VIDA HUMANA, proteger e acarinhar a sacralidade de toda a vida humana. O que fez o Cardeal O’Connor? Acendeu um luzeiro. Não ficou “chorando” os milhões de mortos de que pouco valia. Voltou-se para aquele hoje, que também é o nosso hoje, e passado pouco tempo, nasciam as « IRMÃS DA VIDA» que , em várias cidades americanas, prestam um serviço luminescente nas trevas da cultura onde vivem (vivemos! Como dizem no seu site oficial ( https://sistersoflife.org/), definindo-se: «As Irmãs da Vida são mulheres que estão com amor com o Amor – Amor encarnado, crucificado e ressuscitado – e cativadas pela verdade e beleza de todo o ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus». De facto, os « filhos das trevas são mais sagazes do que os da luz», porém nas trevas surgem “pirilampos”, pequenas lucernas, que iluminam a escuridão. Assim cada um de nós queira ser um humilde pirilampo ou uma pobre lucerna.
Autor: Carlos Aguiar Gomes
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20 maio 2021