As Cidades Verdes são espaços resistentes, autossuficientes e sustentáveis, que investem na melhoria da qualidade de vida da população e na procura da eficiência dos serviços de maneira sustentável, em que o ambiental, o social e o económico sejam preservados para não prejudicar as futuras gerações.
Os autarcas do futuro são desafiados hoje a construir cidades capazes de suportar as actividades exercidas pelos seus habitantes e, ao mesmo tempo, manter a sua qualidade de vida.
A degradação ambiental causada pelos dinamismos urbanos gera a necessidade de repensar os hábitos e formas de hoje, nomeadamente aqueles relacionados com o uso do espaço. São muitas as cidades que cresceram desordenadamente, com sobrelotação, poluição, desflorestação, desigualdades sociais, habitações em áreas de risco, desemprego e trânsito caótico, entre outros problemas.
As cidades de amanhã têm de favorecer um desenvolvimento inteligente e sustentável, através do uso da terra, dos sistemas de transporte, da energia, do uso da água, da gestão de resíduos, da educação e políticas que ofereçam melhores condições de vida aos seus habitantes.
Caminhar para uma Cidade Verde exige que os projetos urbanísticos sejam repensados, privilegiando transportes não poluentes que libertem o trânsito, como a bicicleta e o pedestrianismo.
Para estar na linha da frente da concretização da sustentabilidade, o poder local deve lançar um desafio de baixo para cima, sem paternalismo, à cidade, às empresas, organizações, associações, instituições, públicas e privadas, para assumirem o compromisso real de uma Cidade Verde, não em busca de prémios de credibilidade duvidosa, mas de uma vida com qualidade para todos.
O cenário pós-pandemia é uma oportunidade de ouro que não pode ser desperdiçada. De repente, tudo ficou diferente e o mundo estancou. É tempo de pensar e assumir a saúde, a sustentabilidade e o ambiente, como urgências de ontem.
Olhando para os últimos oito anos, em Braga, que jardins se construíram, quantas novas árvores se plantaram, quantos quilómetros de ciclovias anunciados não saíram do papel, que compromissos de humanização do espaço público e eventos sustentáveis se assumiram? É uma boa adivinha para os leitores. A propaganda diz que são plantadas centenas de milhares de árvores por ano em Braga, mas omite quantas foram degoladas.
Hoje, cerca de três quartos da população vive em ambientes urbanos. O concelho de Braga reflete essa realidade e a vivência urbana limita o acesso à natureza, induz a exposição a riscos ambientais, como a poluição atmosférica e sonora. Mais, os espaços verdes oferecem estratégias inovadoras para a melhoria da qualidade dos aglomerados urbanos, o aumento da resistência local e a promoção de estilos de vida sustentáveis, fomentando a saúde e o bem-estar dos habitantes citadinos. Que se fez, sabendo todos nós que os espaços verdes urbanos constituem um investimento indispensável para as autoridades locais em prol dos cidadãos e do seu bem-estar? Isto não é importante nem prioritário na agenda do Poder Local? É, mas não tem sido em Braga.
Esquecemos que os bracarenses merecem oportunidades de contacto com a natureza — sem maus cheiros ou descargas poluentes — de modo que a biodiversidade urbana seja mantida e protegida e os riscos ambientais, como a poluição, sejam minimizados.
O Poder Local tem de garantir que os espaços verdes públicos sejam facilmente acessíveis a todos os grupos populacionais, e distribuídos de forma equitativa dentro da cidade, através de corredores ecológicos (linhas de água, parques e jardins, sebes de compartimentação, manchas arbóreas) interligados com o património construído e natural na malha urbana.
Existem efeitos positivos da plantação de árvores nas cidades: melhoria microclimática, com as sombras e o vento que proporcionam, redução da poluição atmosférica e sonora, melhoria estética das cidades, efeitos sobre a saúde humana, além de benefícios sociais e económicos.
Nesse sentido, que interessa aos residentes no casco urbano uma investida de propaganda no Monte Picoto se as ruas do centro habitado vão sendo despidas de árvores ou de jardins?
Os benefícios dos espaços verdes urbanos podem ser maximizados através do planeamento e desenho urbano, que combinam a melhoria física do ambiente com a participação da população. Escutar é um dever dos autarcas locais, de baixo para cima e não como tem sido feito. Falta democracia verde que robusteça intervenções ambientais urbanas incorporadas em planos de ordenamento e noutras áreas (como habitação, transporte, saúde, sustentabilidade, biodiversidade, etc.). Como estão os espaços verdes nos grandes bairros habitacionais de Braga?
As Cidades Verdes são espaços onde as pessoas desejam viver e trabalhar, hoje e amanhã, integrando-se no meio ambiente e contribuindo com qualidade de vida, com segurança, inclusão, planeamento, igualdade e serviços para todos.
Autor: Artur Feio