A insegurança das pessoas, a iminência de ser assaltado ou vilipendiado em público são situações que ocorrem com frequência nas sociedades modernas. A falta de civismo, de urbanidade ou de atitudes éticas generalizaram-se nas relações humanas.
O número de pessoas que dão demasiada liberdade aos seus impulsos desregrados têm aumentado muito e, como a justiça não dá o contributo adequado para a punição e correção de tais comportamentos, eles vão proliferando assustadoramente.
Os Meios de Comunicação Social dão eco quase diário da ocorrência de tais desmandos no mundo em que vivemos. Tudo isto tenderia a regredir se o homem soubesse governar racionalmente as suas disposições anímicas e as suas paixões desmedidas. Do domínio correto ou racional dos instintos animalescos depende o nosso desenvolvimento harmonioso.
Os aplausos, o reconhecimento e a notoriedade podem levar o Eu a procurar zonas de segurança para preservar o sucesso, o que, por sua vez, pode engessar a flexibilidade e a imaginação do pensamento antidialético e contrair um raciocínio complexo e multifocal. O sucesso e as glórias podem tornar estéril a nossa mente, criando-lhe zonas de morbidez intelectual.
Todos os ditadores experimentam limitações cognitivas importantes após ascenderem ao poder. Constroem um raciocínio simplista, parcial, tendencioso e egocêntrico. Têm uma racionalidade abaixo da média, mas uma voracidade pelo poder muitíssimo acima da média. São hábeis no uso de armas, mas não o fazem na gestão dos impulsos emocionais. São também muito hábeis a construir fantasmas imaginativos no inconsciente coletivo com os seus discursos paranóicos.
Normalmente, são o assombro e a passividade do povo que alimentam os ditadores, principalmente no início do processo autoritário, quando estes são mais frágeis e inocentes. Os déspotas desconhecem a linguagem da compaixão, da generosidade ou do altruísmo. O homem de crescimento ferino torna-se no animal mais feroz e mais perigoso de todos.
É deste modo que se vão sucedendo as perseguições aos seus opositores, as vinganças pessoais, as violações arbitrárias e todo um conjunto de atrocidades desumanas. A coberto da difusão da moralidade, da justiça e do bem-estar à sua maneira, eles lá vão dando a primazia ao instinto animal que existe no seu íntimo.
Os princípios éticos e cívicos estão a cair num total desapreço, caminhando as comunidades para um precipício que se pode tornar irreversível. O mundo humano está doente no seu ser global, mas, de um modo especial, no foro mental.
Aqui é que se situa a causa da cultura predominantemente materialista e amoral que não corresponde às necessidades e aos anseios mais profundos da pessoa humana. Enquanto se desprezarem estes valores, as sociedades continuarão a violar sistematicamente os direitos mais elementares do ser humano.
As teorias ideológicas do ateísmo, do agnosticismo, do materialismo e do secularismo enganam os próprios seguidores, podendo arrastá-los para um estado de felicidade fictícia, enganosa e conducente a um vazio perigoso e desconfortante. O homem deve ir buscar à sua natureza a verdadeira imaginação e a racionalidade que o caracteriza como ente superior a todos os outros seres vivos.
Só assim viverá verdadeiramente. Tudo o mais é efémero e ficará sem sentido e sem significado. O homem é, por natureza, um ser religioso e, deste modo, perfeitamente capaz de aperfeiçoar o processo de se harmonizar na sua totalidade e assim se manter indefinidamente.
Esta é a única esperança capaz de impelir o homem para um estádio de autêntico desenvolvimento e progresso, em vez de cair numa era de decadência, de depravação e de destruição.
Autor: Artur Gonçalves Fernandes