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OS DIAS DA SEMANA O combate quotidiano contra o bullying

Os critérios que, nos principais meios de comunicação social nacionais, ditam a hierarquização noticiosa são frequentemente incompreensíveis. O protagonismo concedido aos assuntos futebolísticos, para falar do tema mais injustificadamente sobrevalorizado, particularmente nas televisões, a raros suscita estranheza. Também nas primeiras páginas não faltam os assuntos insignificantes. Em alguns casos, são iscos para capturar a atenção. Em outros, nem por isso. Há ocasiões em que as manchetes e os títulos de primeira página se encontram apenas sob a alçada do anedótico. Um exemplo de absoluta futilidade informativa encontrava-se na primeira página do Público de sexta-feira num título que citava uma opinião de Miguel Relvas sobre as próximas eleições presidenciais portuguesas, expressa numa entrevista que ocupava uma página inteira do jornal. Que alguém queira saber o que pensa uma figura como Miguel Relvas – e sobre uma questão tão pouco premente – é, por si só, um enigma, mas oferecer-lhe tão amplo espaço é um caso merecedor de estudo cuidadoso. As questões socialmente mais relevantes nem sempre têm o acompanhamento informativo assíduo que merecem, mas há excepções, claro. Um tema inquietante justificou a manchete do Jornal de Notícias de quinta-feira: “Só 5% das testemunhas de bullying na escola defendem as vítimas”. A questão da violência que afecta os mais novos aparecia por ocasião da celebração do Dia Mundial de Combate ao Bullying. A data serviu para dar conta da contabilidade feita peloObservatório Nacional do Bullying que, desde o início do ano até ao dia 5 de Outubro, recebeu 58 denúncias, um número que não deixa de ser preocupante, sobretudo sabendo-se que estará muito aquém daquilo que efectivamente sucede em matéria de violência nos estabelecimentos de ensino. Num texto enviado à imprensa para anunciar o lançamento de um livro sobre a temática – OBullyingtermina aqui! O teu diário de superação, de Marta Curto – a editora Oficina do Livro e a Associação NoBullyPortugal, associando-se ao alerta internacional em relação a um problema que inferniza a vida de muitos jovens, lembravam que o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) indicou que uma em cada três crianças do mundo entre os 13 e os 15 anos é, regularmente, vítima debullyingna escola. No Jornal de Notícias, é mencionado um estudo da OCDE, citado pela Ordem dos Psicólogos, que estima que o drama é vivido por uma em cada quatro crianças e jovens. Seja uma em cada três ou uma cada quatro, o número é escandalosamente elevado. Os dados do Observatório Nacional do Bullying, que o jornal portuense cita, referem que as vítimas portuguesas têm entre 11 e 15 anos em quase metade dos casos e entre seis e dez anos em 31%. O jornal dava ainda conta que a maior parte das agressões (82,8%) é cometida perante testemunhas, mas apenas 5,2% dos observadores são capazes de acorrer em defesa das vítimas. Os conselhos sobre como lidar com o bullying e o ciberbullying não faltam (a Amnistia Internacional [1], a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) [2], o Centro Internet Segura [3], o No Bully Portugal [4] ou a UNICEF [5], por exemplo, oferecem boas recomendações), mas importa insistir numa regra muito básica: nunca se deve ser condescendente com a agressividade e a violência. É necessário denunciar sempre as situações em que elas se verifiquem. E é preciso também, sobretudo, prevenir ocorrências. Ainda que a poderosa cultura visual que rodeia os mais novos – filmes, séries, telenovelas, videojogos, etc. – tenda a fazer crer que os conflitos apenas são susceptíveis de serem resolvidos mais ou menos violentamente, é preciso um vasto e profundo trabalho familiar e escolar que contrarie este padrão, propondo alternativas valorizadoras da empatia e da paz. Também sobre isto poderiam os meios de comunicação social dizer algo mais. [1] https://www.amnistia.pt/old_site/wp-content/uploads/2017/10/Manual_-Stop_Bullying_AI_Portugal.pdf [2] https://www.apavparajovens.pt/pt/go/o-que-e7 [3] https://www.internetsegura.pt/Cyberbullying [4] https://nobully.pt [5] https://www.unicef.org/brazil/cyberbullying-o-que-eh-e-como-para-lo
Autor: Eduardo Jorge Madureira Lopes
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23 outubro 2022