As redes sociais oferecerão vantagens que alguns terão competências para aproveitar, mas, hoje, é impossível desconhecer os seus abundantes inconvenientes, congénitos, há quem garanta. As vozes dos que têm denunciado que o modelo de negócio das redes sociais – a sua razão de ser, portanto – assenta na rendibilidade dos seus efeitos mais nefastos têm sido assaz audíveis. Muitos dos que se manifestam contra elas conhecem-nas internamente, por nelas terem desempenhado funções de relevo. Sabem, pois, muito bem do que falam.
Entretanto, os que julgam que as desvantagens das redes sociais suplantam os benefícios têm-se multiplicado. Por essa razão, abandonam-nas, mesmo que daí resulte algum prejuízo. Não algum, mas imenso, foi o que a Lush, uma famosa marca de produtos de cosmética britânica com 400 lojas próprias em todo o mundo, teve ao encerrar milhares de contas do Facebook, Instagram, Snapchat e TikTok. E, todavia, o diário britânico The Guardian de 26 de Novembro atribui a Mark Constantine, cofundador e director executivo da Lush, uma afirmação singular: “Sinto-me feliz por perder 10 milhões de libras deixando o Facebook” [1]. Para ele, “não havia alternativa” depois das chamadas de atenção dos “lançadores de alertas” para o impacto negativo das redes sociais, como o Instagram, na saúde mental dos adolescentes.
Jack Constantine, filho de Mark e director digital, explicou que a empresa produz produtos que ajudam a desconectar, a relaxar e a proporcionar bem-estar. “Certas redes sociais tornaram-se a antítese deste objectivo, com os seus algoritmos concebidos para incitar as pessoas a fazer deslizar o ecrã eternamente, sem dispor de um único momento para se desconectarem e relaxarem” [2].
O afastamento do Facebook, do Instagram, do Snapchat e do TikTok, e, consequentemente, de mais de 10 milhões de seguidores, verificou-se na “black friday”. “Toma um banho na companhia de um bom livro, cuida de ti com uma máscara facial e um chá, ou desfruta de um passeio ao ar livre. Convidamos-te a fazer uma pausa do mundo virtual para viver o presente. Queremos conectar-nos contigo em sítios que cuidem de ti e do teu bem-estar mental”, dizia, no passado dia 26 de Novembro, a última publicação da empresa de cosméticos na conta portuguesa do Facebook [3].
Os princípios expressos na “Política anti redes sociais” da Lush [4], apresentados no site da marca, demonstram uma significativa preocupação ética. São, simultaneamente, um expressivo requisitório contra o Facebook, o Instagram, o Snapchat e o TikTok, alvos da grave acusação de aplicarem algoritmos para manipular os utilizadores “com conteúdo negativo, notícias falsas, ou pontos de vista extremos, a fim de aumentar interações, cliques e partilhas”.
Para estar presente nessas redes sociais, a Lush pretende que elas funcionem de outro modo. Apenas assim a confiança poderá existir. Os serviços têm de ser prestados “de uma forma clara e transparente”, não ocultando “as suas verdadeiras funções comerciais ou fluxo de receitas”. A transparência impõe-se também em relação ao modo como são instrumentalizados os dados dos utilizadores. Para a empresa, os utilizadores têm também de ser eficazmente protegidos de “assédio, dano e manipulação”.
“Como qualquer outro passatempo aditivo”, diz ainda a Lush, “desejamos que as plataformas concebam o seu produto para minimizar o risco de utilização excessiva e encorajar padrões de utilização saudáveis”.
Um dos convites que a marca formulou na derradeira publicação no Facebook merece ser aceite. Vale a pena “fazer uma pausa do mundo virtual para viver o presente”. A proposta endereçada a cada um tem o atractivo de não ter custos de espécie alguma.
[1] https://www.theguardian.com/business/2021/nov/26/im-happy-to-lose-10m-by-quitting-facebook-says-lush-boss
[2] https://www.cbnews.fr/marques/image-lush-stoppe-son-activite-reseaux-sociaux-65413
[3] https://fr-fr.facebook.com/LushPortugal/
[4] https://weare.lush.com/pt/lush-life/as-nossas-politicas/politica-anti-redes-sociais-lush/
Autor: Eduardo Jorge Madureira Lopes
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5 dezembro 2021