As empresas enfrentam um facto indesmentível: não precisam de tantos funcionários. “Temos folga para despedir mais funcionários” é o que dizem muitos administradores de grandes e médias empresas. Por muito que nos custe admitir que um despedimento envolve o visado e seus familiares, com todo o cortejo de miséria que do facto daí subjaz, a verdade é que a tecnologia manda para o desemprego cada vez mais mão-de-obra. E contra isto nada a fazer. Para comandar um armazém onde trabalhavam perto de quarenta pessoas, uma só, com um computador numa secretária, comanda um conjunto de pequenos robôs que vão às prateleiras trazem a encomenda, armazenam nos depósitos, colocam em cima dos balcões o artigo que o cliente deseja e isto com mestria e rapidez. E que foi feito dos quarenta trabalhadores? Os mais velhos foram negociar aposentações; os mais novos foram procurar emprego e os de meia-idade estão a receber subsídio de desemprego. E quando este acabar o que metem à boca? Na dele e da mulher e filhos? Mas que fazer se não se pode nem deve parar este estádio de desenvolvimento tecnológico? Cada vez mais veremos este cenário repetir-se até que apareça um iluminado que encontre uma solução para este facto social. É uma situação que envolve duas realidades contraditórias: por um lado a tecnologia é um acelerador desenvolvimentista; por outro é um desempregador ao mesmo ritmo da aceleração. Uma máquina tecnológica pode ser substituída sem autorização sindical, não tem subsídio de férias, nem de Natal, não ter direitos de maternidade ou paternidade, trabalha vinte e quatro horas sob vinte e quatro horas sem reclamar salário extra. Quando envelhece vai para a sucata em vez de ir para um lar ou gozar a aposentação. Malthus entendeu que a população deveria apenas crescer de acordo com a riqueza produzida. No fim de contas, este pastor protestante inglês, foi o primeiro a propor o controlo da natalidade baseando-se no princípio de que a Terra não teria meios para sustentar um aumento crescente da natalidade. O que observamos hoje é precisamente ao contrário: a natalidade diminui, ao invés a produção é cada vez maior: a agricultura vai encontrando meios e métodos de produção que bastem; a riqueza acumula-se sem préstimo social em algumas economias e, no entanto, a pobreza aumenta. O que Malthus não podia prever era que as máquinas tecnológicas criariam riqueza e miséria em simultâneo. Assim, não é a escassez de meios que provoca a miséria, outrossim o excesso de produção. Carl Marx não previu a passagem do homem braçal para o homem técnico, isto é, ficou-se no homem proletário. É errado deduzir o futuro aferindo-o pelo presente. Não deveremos cometer o mesmo erro, mas podemos interrogarmo-nos. Será que a baixa natalidade resolverá o problema do desemprego, que a tecnologia tornará cada vez mais escasso? E como ficamos sem renovação demográfica? Será preciso introduzir quotas de produção de molde a não se produzir mais do que se pode gastar? Teremos aqui um Malthus ao contrário, isto é, mais produção para menos gente? Como ficará a economia perante a longevidade? Teremos uma sociedade em conflito com a tecnologia? O trabalho já não será o castigo do homem? Então a dignificação pelo trabalho deixará de existir? Eis as perguntas, eis os desafios deste século.
Autor: Paulo Fafe