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Os dedicados capelães portugueses na I Grande Guerra

A I Guerra Mundial, em que Portugal participou por razões que os juízos históricos não são unânimes quanto à sua necessidade e oportunidade, vai recordar no próximo dia 11 deste mês de Novembro, os cem anos sobre a data em que se celebrou o armistício, que foi o bom sinal do termo das operações militares. Como sabemos, durante os quatro anos de confronto, houve muitas vítimas entre a juventude dos países beligerantes.

Todos nos lembramos ao passar, mesmo por povoações menos importantes, dos monumentos que se ergueram aos “ Mortos da Grande Guerra”. Habitualmente, um ou mais soldados lusitanos, armados de espingarda com baioneta, usando um capacete típico daqueles tempos, como que fazem guarda a um conjunto de nomes de “rapazes” do concelho, que deram a sua vida, com brio e desinteressadamente, pela pátria que os chamou à luta.

Talvez não entendessem as razões daquele sacrifício supremo, mas o seu patriotismo levou-os ao cumprimento absoluto do dever e à obediência ao que determinou a elite política portuguesa daqueles anos.

Como era de prever, os governantes, laicos confessos, não previram, ao que consta, no início das operações militares, que os soldados, católicos na sua maioria esmagadora, dispusessem de capelães que os atendessem nas suas necessidades espirituais. No entanto, houve muitos padres que se ofereceram voluntariamente para ir para a guerra, a fim de poderem acompanhar religiosamente os combatentes que requeressem os seus serviços. A proporção inicial, tolerada pelas autoridades, foi de um sacerdote por 3.000 soldados.

Mas as coisas são como são e, perante a crítica negativa dos nossos velhos aliados ingleses, a favor dos quais entrámos no conflito, os governantes de Lisboa cederam e deram autorização para o recrutamento de mais sacerdotes.

Tudo isto não significa que não continuassem a atacar a Igreja, apesar de chegarem notícias sobre o comportamento heróico de muitos capelães, que não se privaram de viver a rigor as consequências do conflito, nas primeiras linhas, prestando um excelente serviço de apoio espiritual, psicológico e de toda a ordem aos nossos soldados.

É que não se limitaram às suas funções prioritárias, que era a de ser ministros de Cristo entre os que os procuravam. Assistiram-nos em todos os aspectos, unindo o lado espiritual ao auxílio humano, como auxiliares dos cuidados médicos, animando-os nos momentos mais complicados, carregando soldados feridos nas trincheiras mais adiantadas, entre as balas e as bombas adversárias, etc.

Alguns foram feridos com gravidade e assim voltaram para a sua pátria, provavelmente com algumas limitações de saúde que não os abandonaram, mas com a consciência clara e tranquila de terem cumprido as suas obrigações fundamentais. E, além disso, manifestando com generosidade objectiva e iniludível que a caridade é uma virtude cristã fundamental. Ela não existe apenas em teoria e nos tratados ético-teológicos.

Deve ser vivida em todas as ocasiões, como eles o fizeram, nomeadamente, quando os que estão mais próximos carecem, mais do que nunca, do nosso apoio, da nossa compaixão, da nossa entrega, da nossa amizade e, sempre, das nossas orações.

Pelo seu comportamento exemplar, todos foram depois louvados publicamente e alguns galardoados com altas e honrosas condecorações, porque se reconheceu o seu heroísmo, a sua conduta exemplar e o seu contributo indispensável junto das nossas tropas.


Autor: Pe. Rui Rosas da Silva
DM

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10 novembro 2018