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Os “cidadãos-ratos” de Viana e do Porto

  1. Em Democracia todos são “cidadãos”).Ensinaram-nos, desde pequenos, que Democracia é melhor que Ditadura. Que só em Democracia é que as pessoas (agora chamadas “cidadãos”) gozam da plenitude dos seus direitos e garantias. Que só em Democracia, o cidadão é considerado e respeitado como verdadeira “pessoa” jurídica autónoma; mais ainda, que os cidadãos é que mandam, que pelo seu voto são verdadeiros “criadores”, “fontes” do Direito do seu Estado. É certo que a verdadeira Democracia permite que esses cidadãos possam ser bem desiguais naquilo que não pertence à sua essência de cidadãos, nomeadamente, aos meios de fortuna patrimonial. Mas procura sempre atenuar essas diferenças. De modo que elas não “roubem”, na prática, a cidadania a uma parte dos cidadãos. Que não seja a “carência de meios de fortuna” nem qualquer outro factor, a roubar a dignidade e a cidadania a qualquer grupo de cidadãos.

  2. Não estava pois prevista a existência de “cidadãos-ratos”). Há quem lhes chame cidadãos “abaixo de cão”. Mas eu acho que, ao menos nos 2 casos que aqui trago hoje, localizados nas importantes urbes de Viana (do Lima) e do Porto, a designação de “cidadãos-ratos” é bem mais adequada. Adequada, na medida em que os tais grupos de “cidadãos-ratos” são basicamente, convidados (obrigados…) a fugir, a exilar-se contra a sua vontade. Caso contrário são, no caso de Viana, corridos ao empurrão. No caso do Porto, num tratamento mais adequado para verdadeiros roedores infestantes que decerto são, fumigados por incessantes e intermináveis emissões de ar pestilento e contaminado; o qual afecta dezenas de milhares de moradores, num certo bairro bem populoso da dita cidade . Ziklon B? Não chega a tanto, mas…

  3. Mas, de que estou afinal, a falar?). Eu explico. Estou a falar da expulsão das centenas de moradores do “prédio Coutinho”, em Viana. E da péssima qualidade de vida que têm os habitantes da muito populosa freguesia de Lordelo do Ouro, no Porto; a qual afecta vários bairros daquela zona.

  4. No Porto, uma ETAR gigante foi colocada no meio dos bairros).Hoje em dia, quem tem o azar de morar perto de uma ETAR já sabe bem da indignidade (de “rato”…) com que a sua autarquia o trata. Porém, normalmente essas ETARs são colocadas perto de ribeiros e o mais longe possível das casas e prédios. No Porto, com Fernando Gomes, há cerca de 15 anos, nada disso foi levado em consideração. E a ETAR de Lordelo do Ouro (dita, de “Sobreiras”) foi “estrategicamente” colocada a 50 metros da ANJE (Associação Nacional dos Jovens Empresários); e de uma conhecida Pousada da Juventude; e de um famoso restaurante (“Varanda da Barra”); e de 3 torres de 13 andares; e de um vasto conjunto de blocos de 4 pisos!...

  5. De dia e de noite a envenenar o ar).De dia é quando calha, especialmente ao fim de semana. De noite é quase todas as noites, de madrugada para que os camiões que trazem as pestilentas lamas não sejam vistos (entram por uma zona onde não há casas, junto ao rio). Nos meses quentes de verão, o ar quente e o vento nocturno levam para mais de 1km. os eflúvios venenosos e insuportáveis. Se há nevoeiro, o ar mal-são fica ali estacionado por horas, num raio de centenas de metros. As partículas são tão finas, que mesmo com as janelas e portadas fechadas e calafetadas, o odor acaba sempre por entrar. E imagine-se o que é dormir de verão numa casa toda fechada…

  6. Que motivos impedem a mudança da ETAR, para o vaidoso Parque da Cidade?). Esta vasta zona verde, situada perto de Matosinhos, tem mais de 50 hectares; espaço mais que suficiente para, sem prejuízo do parque, junto ao mar, se construir uma nova ETAR. Será que as gaivotas e meia-dúzia de veraneantes de certa praia têm mais dignidade que os atrás citados milhares de “cidadãos-ratos”? Pelos vistos, sim. O actual pres. da Câmara é apartidário (Rui Moreira), daí que não se possa responsabilizar qualquer partido pela grave afronta à saúde, causadora de cancros pulmonares e doenças cardio-respiratórias e mortes prematuras. Empresários que quisessem fazer a obra, decerto que não faltam; e aqui, os dinheiros públicos dos nossos pesados IMIs eram bem empregues.

  7. Capricho estético infundado, manda abaixo prédio de 12 andares).Dizem que para construir um pequeno mercado novo, nestes tempos de hipermercados reinantes! Lá onde há poucos anos a CM demoliu outro… Lembre-se que isto se passa na tal autarquia de J. M. Costa, que tem mais consideração e estima pela integridade dos bois (vulgo, touros de lide) que pelos seus munícipes, agora então incluíveis na tal categoria de “cidadãos-ratos”. Deve ser um critério que atende sobretudo ao peso, ao tamanho do animal em causa: boi vale mais que rato, claro. A pseudo-estética invocada, talvez seja realmente aquela que prevalece num pobre país em que o modelo é um paupérrimo e esteticamente afrontoso Siza Vieira (e já não um brilhante Alcino Soutinho…). No país da “Casa da Música” e das vivendas “micro-ondas”. Mas, mais. A completa insanidade que seria, ali mesmo, implodir (“à bomba”) o prédio, deu agora lugar à sua lenta (e barulhenta) destruição à martelada. O autarca Costa e o ministro do Ambiente (!) apareceram, no dia do cerco definitivo à última resistência de uma dúzia de heróicos velhos e seus familiares revoltados. É por estas teimas e arrogâncias de certos políticos, que certamente (e como vingança servida fria), a A28 continua a ser injustamente portajada. E que há anos, aqui no Norte (por prováveis razões “taurinas”) se deixou de poder saborear o fabuloso melão de Almeirim.


Autor: Eduardo Tomás Alves
DM

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9 julho 2019