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Os bracarenses merecem

A Praça Mouzinho D'Albuquerque (antigo Campo Novo), em S. Vicente, é para mim uma das mais bonitas praças da cidade; e, se nos debruçarmos sobre a forma desordenada, desconexa e caótica como Braga cresceu nos 37 anos de gestão socialista autárquica, facilmente concluímos que foi atingida pela doença vulgarmente designada de elefantíase. O seu traçado, em forma de losango cujos vértices apontam aos quatro pontos cardeais (norte, sul, nascente ou leste e poente ou ocidente) é harmonioso e aconchegado; e, mais espetacular ainda é a volumetria do seu edificado que mantém uma traça arquitetónica homogénea e singular – habitações unifamiliares e do tipo rés-do-chão e andar e a sua abertura a quatro ruas: das Oliveiras, a norte, de S. Gonçalo, a sul, de Guadalupe, a nascente e de Santo André, a poente. Pois bem, implantada na parte central da Praça e voltada para a rua de santo André, agiganta-se a estátua do rei de Portugal D. Pedro V, de seu cognome o Esperançoso, e o nome completo de Pedro de Alcântara Maria Fernando Miguel Rafael Gonzaga Xavier João António Leopoldo Vítor Francisco de Assis Júlio Amélio; estátua que apresenta no frontispício a seguinte inscrição: À memória do chorado e virtuoso rei de Portugal D. Pedro V em testemunho de respeito e homenagem do cónego José Narciso da Costa Rebelo e seu irmão o barão da Gramosa (1879). Todavia, se a magnificência da Praça que obviamente lhe vem das suas caraterísticas arquitetónicas e ambientais é um dado adquirido, a imponência da estátua ainda maior realce lhe confere; e, não sendo a nossa cidade prolixa em estatuária, oferece-nos, mesmo assim, alguns belos exemplares como do marechal Gomes da Costa, do papa Pio XII, do Arcebispo D. Frei Bartolomeu dos Mártires, do imperador romano César Augusto, do comendador Santos da Cunha e do Cónego Eduardo Melo. Tendo, durante longos anos, sido votada ao esquecimento e abandono, ultimamente as modificações e melhoramentos que a cabo, mormente no arranjo do jardim, do piso e do muro que a circunda, restituída foi à Praça muita da dignidade e imponência perdidas; e, hoje, assistir ali a um entardecer outonal ou usufruir da placidez de uma manhã de primavera, sentado num dos bancos existentes e aspirando o perfume das laranjeiras em flor, é finalmente um privilégio de qualquer bracarense de bom gosto e sensibilidade ambiental. Pena é que uma mão canhestra de um qualquer energúmeno cidadão tenha violado a limpeza e colorido do muro, junto ao fontanário, com um daqueles grafitis que pedem um corretivo exemplar pela ousadia e despropósito; e muito jeito dava, já que falamos no fontanário, que a sua água não estivesse imprópria para consumo, conforme aviso exposto, pois, nas tardes ensolaradas de verão, a quem por ali deambula ou se compraz, bem sabia umas goladas do precioso líquido. Depois, embora já avance a bom ritmo o restauro de alguns edifícios degradados da Praça, há ainda outros a precisarem de urgente intervenção a que a Câmara Municipal deve dar todo o apoio e incentivo para que a sua traça original se mantenha e antes que o tempo e a vetustez destruam a sua beleza; é que com tal ação de restauro e recuperação arquitetónica todos têm a lucrar: autarquia, proprietários e população em geral. Já agora, o piso da Praça não me parece o mais apropriado para determinadas situações, pois, por exemplo, quando chove, perde a sua consistência e quem por ali passa corre o risco de derrapar e cair; ou, no mínimo, dali sair com umas solas novas no calçado, mas de...lama; assim sendo, e dado que o arranjo urbanístico da Praça o merece, seria de bom gosto e oportunidade arranjá-lo nos moldes, por exemplo, do que enforma o jardim de Santa Bárbara. E, assim, uma vez mais motivo havia para exclamarmos que - É BOM VIVER EM BRAGA! Então até de hoje a oito.
Autor: Dinis Salgado
DM

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29 novembro 2017